Yuzu Rouge, L'Eau d'Issey e Gucci Rush são expoentes entre os perfumes modernistas
Notas Perfumadas
Os perfumes têm estruturas assim como os prédios, e muitos perfumistas, como os arquitetos, absorveram os preceitos do modernismo do começo do século 20: eliminar os ornamentos, simplificar as linhas, derivar de materiais contemporâneos.
Yuzu Rouge, da perfumaria de nicho 06130 (número do código postal de Grasse), é um dos melhores perfumes modernistas disponíveis. O perfumista Raphael Haury, sob a direção criativa de Nicolas Chabert, da 06130, criou o equivalente olfativo da Lever House, a seminal “caixa de vidro” de 1952 que se localiza na Park Avenue, em Nova York. O prédio consiste em 24 andares de vidro verde azulado e aço. O perfume é igualmente liso e ilusoriamente simples. As matérias-primas – groselha preta, verbena e grapefruit – estruturam-se com clareza cristalina, livres de qualquer esqueleto estrutural perceptível. Como a maioria dos que se enquadram no seu estilo, ele é um tanto fugaz, pois se difunde enlouquecidamente nos primeiros 15 minutos, depois se transforma em um murmúrio hipnotizante de capim limão e chá. Uma simples reaplicação recarrega seu brilho elegante.
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Frasco do perfume L'Eau d'Issey
Assim como o aço, o novo metal high-tech, permitiu a construção de arranha-céus, a descoberta de 1966 do laboratório Pfizer da molécula metil benzodioxepinona, nome comercial Calona, com sua fragrância marinha-ozônica, permitiu a criação dos perfumes oceânicos dos anos 90. O perfumista Jacques Cavallier, que criou em 1992 L’Eau d’Issey para Issey Miyake, fez uso paradigmático da Calona. Simplificado e linear, ele foi o precursor de todo um subgrupo de perfumes oceânicos, embora estes, que já foram um dia excitantes, hoje estejam datados. L’Eau d’Issey, que revolucionou em sua época e foi construído com maestria, pode estar chegando ao fim no que diz respeito à sua utilidade estética.
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Frasco do perfume Gucci Rush
Em 1999, o perfumista Michel Almairac produziu um perfume para a Gucci que era – e ainda é – virtualmente perfeito. Seu cheiro é maravilhosa e explicitamente sintético, como se alguém estivesse sentindo o cheiro de um casaco feito da mais cara Lycra do mercado. Mas sob a superfície, Gucci Rush correm as lactonas, moléculas sintéticas e incríveis que exalam um aspecto de iogurte recém-tirado da geladeira, com um toque do potinho plástico da sua embalagem. A genialidade de Rush está na clareza sem pureza (L’Eau d’Issey é definitivamente limpo, eis sua lmitação). Seu cognato arquitetônico é a torre do Bank of America, que se ergue na Sexta Avenida, esquina com a rua 42, em Nova York. A coragem do arranha-céu encontra-se nos materiais avançados como concreto de escória, mas sua fachada reflete muito mais de perto o perfurme. Esta caixa é angulosa, complexa, multifacetada. Seu invólucro de vidro é tomado de uma brancura leitosa, cintilante, e mantém o prédio numa temperatura constante, nem quente nem frio. Extraordinário.
Tradutor: Erika Brandão