"Estar na moda é não estar na moda", diz o historiador de moda João Braga

CAROLINA VASONE
UOL Moda

  • Rodrigo Pessoa/Divulgação

    O historiador de moda João Braga lançou, esta semana, o livro 'Reflexões sobre a Moda, Volume II'

    O historiador de moda João Braga lançou, esta semana, o livro 'Reflexões sobre a Moda, Volume II'

O que é "estar na moda"? Há cinquenta anos, ninguém titubearia; pensaria no "New Look" criado pelo estilista Christian Dior e apontaria qualquer moça de saia rodada e blusa de cintura marcada passeando por uma rua de classe média alta brasileira ou parisiense para exemplificar sua definição. Que atire o primeiro cabide quem hoje, conseguir, sem vacilar, fazer o mesmo ao caminhar pelas calçadas da badalada Oscar Freire (SP).

O hippismo dos anos 70, o romantismo do século 19, o minimalismo dos anos 90. Androgenia, feminilidade, agressividade. Laços, tachas, cintura alta, no lugar, império, baixa. Até para os que estudam o assunto não é fácil responder a pergunta. Historiador de moda, estilista, professor e consultor na área, João Braga lançou, na última segunda (07/11), o livro "Reflexões sobre a Moda - Volume II" (Editora Anhembi Morumbi), o segundo da série de quatro publicações que reúnem 48 artigos do especialista, veiculados em sites, revistas e jornais nos últimos dez anos. Ao observar tantas referências e estilos diferentes oferecidos pela moda hoje, ele afirma: "É difícil definir de maneira geral, porque existe um forte hibridismo. Eu diria, atualmente, que estar na moda é não estar na moda; é buscar a subjetividade, ser 'personal stylist' de si mesmo."
Divulgação

Capa de "Reflexões sobre a Moda, Volume II"
 

Mas o que quer dizer exatamente isso? Sempre preocupado em contextualizar historicamente os assuntos que aborda, João Braga parte da definição de "moda" para esclarecer seu ponto de vista. "A moda existe quando se tem a referência do uso coletivo. Em 1482, na França, a primeira definição da palavra já descrevia a moda como 'maneira coletiva de se vestir'", conta. Assim, não estar na moda para estar na moda seria esquecer o que todo mundo veste e buscar um estilo próprio, aproveitando que ninguém vai te olhar torto na rua porque sua calça é justa, não reta, ou porque sua camiseta não tem manguinhas bufantes e lacinhos, mas a estampa gasta de um ídolo de rock. Ah, e pensando que tudo isso está na moda, conseguir fazer uma mistura original.

MODA X ESTILO

Nem todos, no entanto, nasceram com talento, vontade ou tempo para garimpar peças de roupa totalmente diferentes, juntá-las e conseguir usar o resultado como expressão de parte de sua identidade. Para esses, a indústria de moda oferece as famosas tendências em matéria de vestuário. E assim também dá para estar na moda. "Se a pessoa pertence a um determinado grupo da sociedade que tenha um formador de opinião que vá julgá-la a partir do que usa, dependendo de qual grupo for esse, estar na moda pode ser vestir-se como a atriz da novela da Globo", diz Braga.

Seguir as tendências de moda, porém, não quer dizer ter estilo. "O estilo está ligado à subjetividade, à individualidade. A moda é quando há a aceitação do estilo pela massa", afirma. "Ela tem o compromisso de te fazer único, mas acaba te colocando como um a mais", completa.
Reprodução

Capa do livro "New Look", de Dior: moda dos anos 50 que virou estilo de uma época
 

Apesar do caráter massificador da moda, há uma compensação. "Quando a moda passa a retratar um tempo, volta a ser estilo. O estilo de uma época". Ao seguir a moda, portanto, você - com suas roupas - pode acabar por simbolizar um período na história do vestuário.

ELEGÂNCIA X MODA

Em outros tempos, a criação de moda estava intrinsecamente ligada à elegância. Quem imaginaria um terninho Chanel, um vestido Givenchy, que não fosse, por si só, uma peça de roupa elegante? Hoje, não necessariamente, afirma João Braga. "Não posso negar, por exemplo, o visual que prestigia o exótico em detrimento do belo", diz o consultor, referindo-se às criações de moda contemporânea, muitas vezes com experimentações de volumes, cores, estampas e formas que podem ser criativas, mas nem sempre elegantes.

Isso considerando a roupa no cabide. Porque - Braga enfatiza - ser elegante tem muito mais relação com o comportamento do indivíduo do que com a moda. "Você pode estar num vestido de chita - que aliás, tem tudo a ver com a nossa cultura - e estar elegante", afirma. "Hoje há a elegância pela simplificação mas também pela exuberância. Não existe mais verdade para o universo, e não só o da moda. Mas bom senso e postura vão continuar a ter seu valor", completa.

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