Conheça o designer israelense Ron Gilad, criador de modernas luminárias com LEDs

Alice Rawsthorn

  • Michael Loos

    O sistema de iluminação com LEDs Wallpiercing, desenhado por Ron Gilada para a italiana Flos

    O sistema de iluminação com LEDs Wallpiercing, desenhado por Ron Gilada para a italiana Flos

NOVA YORK - Não era bem a resposta que ele estava esperando. Quando Piero Grandini visita jovens designers em seus estúdios e os convida para trabalhar em sua empresa, eles geralmente dizem que sim, rapidamente e cheios de entusiasmo -mas Ron Gilad não fez isso.

"O estúdio de Ron era inspirador, cheio de pequenas preciosidades que ele mesmo fizera, com detalhes incríveis. Era poético e subversivo", diz Gandini, presidente da italiana Flos, empresa de iluminação que tem endossado uma sucessão de grandes estilistas nos últimos 50 anos, começando por Achille Castiglioni. Gandini continua:

"Então eu disse: 'Você não quer transformar essas idéias fabulosas em produtos de verdade?', e Ron respondeu, 'não estou interessado em fazer produtos de verdade.' 'Mas se não fizer produtos de verdade, como você pode ser um designer de verdade?'
'Eu não ligo de ser um designer de verdade.'
'Mas, certamente, você precisa de dinheiro.'
'Eu não ligo para dinheiro.'
Então nos  sentamos no chão e conversamos. Havia algo muito valioso nele e naquele lugar, eu tinha que tentar fazer alguma coisa."

Finalmente, Gilad cedeu. As luzes visualmente deslumbrantes, tecnologicamente engenhosas que ele concebeu para a Flos estavam entre os produtos mais comentados na Feira de Móveis de Milão de 2010 e deste ano. Desde então, ele vem sendo bombardeado por ofertas de outras empresas, mas sua reação parece igualmente ambivalente.

Independência

"Estou um pouco confuso com isso tudo", disse ele. "Não quero assumir muitos projetos. Eu trabalho com dois assistentes, três dias por semana, e realmente preciso ficar sozinho o resto do tempo. Não quero fazer a mesma coisa para essa e aquela empresa, só criando pequenas alterações, como fazem alguns designers. A menos que eu tenha uma boa relação com as pessoas, eu não me importo."

Tudo isso poderia soar como timidez se vindo de qualquer outra pessoa, mas Gilad só está disposto a trabalhar dentro de seus próprios prazos. Um israelense de 38 anos com cabelos longos presos em um rabo de cavalo, ele se senta em seu estúdio no Brooklyn fumando um cigarro atrás do outro, apagando-os em uma taça de vinho quebrada. "É muito difícil eu conseguir me livrar das coisas", explicou. "Quando o vidro quebrou, ele não podia mais conter líquido, mas ainda pode conter cinzas, então eu guardei. E tudo quebra por aqui."

"Aqui" é o oitavo andar de um antigo armazém onde ele vive e trabalha e que tem vista panorâmica de Manhattan e fica sobre os escombros industriais do Brooklyn Navy Yard. Gilad gasta quase todo seu tempo ali, exceto durante suas viagens a trabalho para a Itália e um mês, todo inverno, para Israel.

"É muito difícil para mim sair", disse ele. "Uma vez por semana eu saio para comprar cigarros e comida. Uma vez a cada três meses eu vou ao Chelsea para ver alguma exposição. E é isso. Nunca gostei de Nova York. Eu quero ir embora o mais rápido possível. Mas eu venho dizendo isso há 10 anos. Este espaço e as coisas que estão aqui são quem eu sou -vivendo no limite de tudo."

Minimalismo

O estúdio está cheio de modelos, desenhos, protótipos e objetos finalizados. Há toques de surrealismo em sua obra, particularmente nos espelhos em forma de pinceladas, mas o estilo predominante é o minimalismo.

Cadeiras, mesas, vasos, mesmo maquetes de casas foram reduzidas a silhuetas lineares de versões arquetípicas deles mesmos. O conteúdo de seu estúdio atua como um diário de sua vida ali dentro, inclusive as três tábuas em pé, ao lado de uma pilha de cacos de vidro. As tábuas eram prateleiras que guardavam os protótipos, até que uma noite elas caíram. Os vidros quebrados estavam entre as vítimas.

Tendo estudado design na Academia Bezalel, em Jerusalém, Gilad mudou para os Estados Unidos, em 2001, para abrir uma empresa, Designfenzider, com um amigo. Eles fabricaram seus móveis e objetos até que Gilad desistiu, no ano passado. "Havia muitas responsabilidades", resmungou. “Design. Desenvolvimento. Produção. Vendas. Marketing. Você precisa cuidar de todas essas coisas. O processo consumiu toda a minha energia e toda a minha  felicidade. Nunca mais."

Seu trabalho chamou a atenção de Paola Antonelli, curadora sênior de design do Museu de Arte Moderna de Nova York. "É tão perfeitamente equilibrado e surpreendente", disse ela. "Um senso de humor excêntrico e uma elegância matadora. Muito perto do sublime." Foi ela quem sugeriu a Gandini que considerasse chamar Gilada para a Flos.

Wallpiercing: a luz em nova forma

O "timing" foi perfeito. A iluminação vem sendo transformada pelo desenvolvimento de fontes de energia eficientes, como os minúsculos spots produzidas por diodos emissores de luz, ou LEDs. Estas novas tecnologias oferecem oportunidades para designers e fabricantes de produzir novas formas radicalmente diferentes de iluminação, coisa que Gilad tem explorado com satisfação.

"Como um super-minimalista por natureza", disse ele, "a redução da fonte de luz em algo tão pequeno foi o paraíso. Você pode fazer o que quiser com a forma. É como uma criança numa loja de doces. Mas há limitações. Embora a tecnologia tenha evoluído, a luz que ela proporciona não é tão romântica quanto a antiga lâmpada incandescente. Para mim, era fundamental manter algum tipo de poesia."

Para os painéis de iluminação Wallpiercing que ele desenvolveu para a Flos no ano passado, Gilad criou pequenos círculos de LED e os posicionou com muita precisão, mas aparentemente de forma aleatória, para criar delicadas camadas de luz. Ele produziu uma série de grandes círculos de LED para o 2620, um lustre apresentado pela Flos em Milão durante o Salão do Móvel, e os agrupou no que parece ser um vórtice.

"É baseado em uma memória de infância, da vitrine de uma loja de flores em Tel Aviv", disse Gilad. "Os vasos foram colocados dentro de anéis que eram ligados a pedestais em um ponto único e posicionados em ângulos de uma forma que pareciam estar dançando. Para mim, vendo aquilo com olhos de criança, era mágico. Se você olhar para o 2620 de baixo, você vê uma flor perfeita, mas de qualquer outro ângulo, parece caótico. O caos completo a partir da ordem perfeita."

Tradutor: Érika Brandão

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