Colaboração entre artistas e designers agita galerias e exposições pelo mundo
Alice Rawsthorn
LONDRES – A loja de pintura de Walter Maurer, que fica num hangar de aviões antigos, perto da cidade bávara de Fürstenfeldbruck, geralmente fica cheia de carros de corrida, helicópteros, jatos e qualquer outra coisa que possua motor. Nesta primavera, ela ficou abarrotada de pedaços de mesas de alumínio, nas quais ele corajosamente pintou símbolos gráficos coloridos, assim como ele faz em carros de Fórmula 1.
As mesas foram desenvolvidas pelo designer alemão Konstantin Grcic para "Champions", uma exposição que abriu em 10 de junho na Galerie kreo, uma galeria de design contemporâneo em Paris. "Eu amo equipamentos cobertos de gráficos que sugerem que os objetos são rápidos dinâmicos, etc.”, diz Grcic. "Nunca usei gráficos ou motivos decorativos no meu trabalho antes, mas este projeto não trata apenas de decoração. Estou interessado no significado das cores, palavras e símbolos, e no que acontece se colamos um "rápido" em alguma mobília estática."
Grcic tem sido um dos designers industriais mais influentes dos últimos anos. Era possível identificar cópias (geralmente sem valor nenhum) de seu estilo angular em vários trabalhos de jovens designers na última edição da Feira de Móveis de Milão, em abril. Normalmente, Grcic cria para produção em massa e "Champions" é seu projeto mais ambicioso até o momento -se falarmos sobre desenvolvimento de objetos a serem produzidos em edição limitada e vendidos em galerias. Está também entre as exposições de design mais ansiosamente aguardadas do verão.
Apenas alguns anos atrás, o mercado de colecionadores de design contemporâneo estava dominado por preços recorde, pagos em leilões de móveis-troféus criados por astros do design artístico, como Marc Newson e Ron Arad. As coisas mudaram depois que várias obras de Newson, uma vez cobiçadas, não conseguiram evocar lances durante um leilão na Phillips de Pury, em Nova York, na primavera passada. Havia algumas peças de Arad na liquidação de design da Christie’s, em Nova York, no dia 16 de junho, e nem uma peça de design contemporâneo no leilão da Sotheby's, no dia anterior.
"Tomamos uma decisão muito consciente de trabalhar simplesmente a história desta vez", disse James Zemaitis, vice-presidente sênior de design da Sotheby's, em Nova York. "Tivemos uma ótima peça do início de carreira de Ron Arad em liquidação em dezembro passado. Aquilo era tudo o que ele tinha de bom e foi vendido por 60 mil dólares a um único proponente. Em 2007, ele teria conseguido 150 mil dólares sem problema nenhum."
A boa notícia
Esta é a má notícia. A boa notícia é que outra área do design contemporâneo está muito mais viva: o "mercado primário" do novos trabalhos desenvolvidos por designers para galerias comerciais, como "Champions", de Grcic, na kreo.
Tanto melhor. Puristas do design (inclusive eu) detestavam o "design-arte" da bolha, em grande parte porque corroborava com a percepção imprecisa e lamentavelmente difundida que design se trata de cadeiras com preços astronômicos. E nem sempre o design-arte representa os designers em seus melhores momentos. Os colecionadores que já esbanjaram até 2,25 milhões de dólares em uma Lockheed Lounge, uma das chaise longue que Newson fez depois de alguns anos longe da escola de design, poderiam desfrutar de um exemplo mais refinado de sua obra ao afivelar o cinto de segurança no assento de uma das cabines das aeronaves que ele projetou para Qantas. Mas há um benefício duradouro na bolha do "design-arte": ele chamou a atenção do mundo da arte para o design.
Novas galerias comerciais abriram para representar designers contemporâneos. Uma nova geração de curadores de design surgiu, e há mais colaborações entre artistas e designers. Entre eles está "Ernö Goldfinger v. Groucho Marx", uma exposição do artista Ryan Gander e do designer Michael Marriott, que vai até 25 de junho no Russian Club de Londres. É a homenagem de ambos à Willow Road, 2, uma casa modernista construída no norte de Londres na década de 1930 pelo arquiteto Ernö Goldfinger. Ian Fleming, o autor dos romances de James Bond, morava ali perto e desgostava tanto da casa que batizou um vilão particularmente desagradável com o nome de seu arquiteto.
O design também foi acolhido por galerias de arte comercial. Um destaque do outono será a abertura de uma exposição do designer italiano Martino Gamper como a primeira exibição de design na Galleria Franco Noero, em Turim. Já um dos favoritos dos colecionadores de arte, incluindo a influente estilista Miuccia Prada, Gamper deve gastar boa parte do verão em Turim trabalhando na exposição, que irá preencher todos os nove andares do prédio muito alto e estreito do final do século 19 onde se situa a galeria, conhecido como Fetta di Polenta, ou fatia de polenta.
Paris, Londres, Basel
Mais galerias de arte e design vão abraçar projetos como este, de novos designers, no futuro. Nem todos serão tão interessantes quanto os de Gamper, mas como os preços das novas obras vendidas por galerias de arte no chamado "mercado primário" tendem a ser inferiores aos de peças existentes quando aparecem em leilão, o trabalho pode ser mais desafiador. Previsivelmente, a primeira onda de colecionadores de design contemporâneo tende a ser atraída pelas obras mais vistosas, não necessariamente pelas obras mais inteligentes ou exigentes. Como o mercado evolui, os colecionadores estão se tornando cada vez mais experientes e propensos a investir em projetos mais complexos e experimentais.
Eles devem encontrar alguns exemplos interessantes na feira Design Miami-Basel em Basel, na Suíça, entre 14 e 18 de junho. A kreo levou uma nova coleção de móveis criados pelo designer francês Pierre Charpin. A Galerie BSL, de Paris, apresentou novas peças do designer espanhol Nacho Carbonell, e a Helmrinderknecht, de Berlim, mostrou o trabalho do designer suíço Nicolas Le Moigne.
A galeria Libby Sellers de Londres apresentou “Colony”, um novo projeto têxtil desenvolvido pelos designers italianos Andrea Trimarchi e Simone Farresin, do Studio Formafantasma, no Audax Textile Museum na cidade holandesa de Tilburg. Ele explora a complexa história cultural da Itália e suas ex-colônias, além da controvérsia atual sobre imigração.
Houve também algumas joias históricas do design em exposição em Basel, como um kit para casa de 1944 concebido pelo arquiteto francês Jean Prouvé como habitação de emergência para refugiados de guerra, exibido pelo negociante de design parisiense Patrick Seguin. A casa foi projetada para ser construída por três pessoas em um dia, e foi construída a partir do zero todos os dias da feira.
Tradutor: Érika Brandão