Mostra no MoMA de Nova York explica a interação entre design e comunicação
Alice Rawsthorn
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Sascha Nordmeyer
Prótese de sorriso, criada para quem tem problemas de socialização
LONDRES – Quando Tony Quan, um grafiteiro americano conhecido como TEMPT1, contraiu esclerose lateral amiotrófica, uma doença fatal e degenerativa dos neurônios motores, seu estado deteriorou rapidamente até que ele ficasse totalmente paralisado, com exceção dos olhos. Um grupo de amigos do laboratório Free Art & Technology, do Graffiti Research Lab e de outras organizações de arte e tecnologia uniram forças para tentar encontrar meios que permitissem que ele continuasse seu trabalho.
O resultado foi o EyeWriter. A equipe adaptou a tecnologia de rastreamento ocular a um óculos com um software especialmente desenvolvido e que grava os movimentos dos olhos de Quan e os retransmite, sem o uso de cabos, para um laptop posicionado perto da parede que vai ser grafitada. O laptop é ligado a um kit a laser que pinta a parede com as cores e formas especificadas por Quan, mesmo que ele esteja a quilômetros de distância, em uma cama de hospital.
O EyeWriter é um dos projetos da exibição "Talk to Me", aberta em 24 de julho no MoMA de Nova York e que investiga como as inovações no design da comunicação estão transformando nossas vidas. A premissa da mostra é simples: a comunicação é, hoje, a força dominante no design.
"Roteirização"
"Passamos por muitas mudanças na definição do que é design no século 20, com todos os clichês sobre a forma seguindo a função, além do acréscimo de significado nos anos 60, com o pós-estruturalismo, mas o que realmente importa atualmente é a comunicação", diz, por telefone, Paola Antonelli, curadora sênior de arquitetura e design no MoMA. Ela dividiu a curadoria da exibição com a colega Kate Carmody. "Por conta disso, os designers não podem simplesmente pensar em termos de forma, função e significado quando desenvolvem novos objetos, eles também precisam aprender um pouco sobre roteirização."
O MoMA possui um orgulhoso passado de recepção de mostras-manifestos que identificaram questões emergentes no design. Durante os anos de 1930, o arquiteto Philip Johnson estabeleceu um novo padrão na curadoria do design em exposições, que analisava objetos industriais com um nível de crítica que museus como o MoMA até então reservavam somente para pintura e escultura. Uma abordagem mais populista foi adotada nas décadas de 1940 e 1950, quando outro curador do MoMA, Edgar Kaufmann Jr., embarcou numa cruzada para educar os consumidores americanos quanto às virtudes do "bom design" no pós-guerra.
Hoje, Antonelli mantém a tradição ao organizar uma série de exibições que se concentram no papel do design na era digital, culminando com a mostra "Design and the Elastic Mind", de 2008, que examinava a acelerada mudança na relação entre o design, a ciência e a tecnologia. Uma paladina apaixonada pelo design, ela produz exposições provocativas, ambiciosas e inerentemente otimistas sobre a capacidade de melhorar nossas vidas que o design possui, sem ignorar os problemas apresentados nas suas aventuras por novos terrenos. Suas mostras podem incluir tanto experimentos de estudantes esotéricos e conceitos aparentemente malucos quanto os produtos impecáveis de programas de pesquisa corporativas.
Objetos devem interagir
"Talk to Me" não foge à regra. O ponto de partida surge do fato de a tecnologia digital possibilitar que objetos se tornem tão complexos e poderosos que agora esperamos interagir com eles. Se você dá um objeto desconhecido para uma criança pequena, ela vai, instintivamente, procurar botões ou sensores para operá-lo.
Mas os mesmos microchips que possibilitam a existência de coisas pequenas como os smartphones realizar centenas de funções diferentes, também lhes tira o brilho. Na era industrial, quando a forma geralmente seguia a função, era possível adivinhar como usar um produto eletrônico a partir de sua aparência. Não é possível fazer isso com um minúsculo aparelho digital, e é por isso que os designers enfrentam o novo desafio que Antonelli chama de "roteirização", em outras palavras, garantir que o objeto consiga nos dizer como usá-lo.
As obras de "Talk to Me" vão dos caixas eletrônicos que são usados por milhões de pessoas todos os dias em bancos, aeroportos e estações de trem, a projetos de guerrilha inspiradores como as próteses de sorriso, cuja intenção é dar forças para qualquer um que se sinta desajustado socialmente, e uma versão do cubo mágico em Braille para que pessoas com dificuldade de visão possam brincar também.
Outra obra é uma proposta para melhorar a eficiência de um centro de atendimento de emergência (o 190, no Brasil) ao recriar o modo como a informação aparece nas telas do computador dos funcionários, facilitando a compreensão do que está acontecendo, como responder e como verificar se a solução escolhida está funcionando.
Novas técnicas de comunicação
Outras peças exploram novas formas de comunicação. Existem exemplos encantadores de novas tecnologias que incluem visualização de dados, as imagens digitais que fazem sentido quando falamos sobre imensas quantidades de informações complexas, e que instantaneamente refletem quaisquer mudanças. A mostra também conta com mídias mais idiossincráticas, como "Pig 05049", livro que registra o que aconteceu com os componentes de um único porco depois de sua morte, à medida que eles foram usados para fazer cerveja, munição, válvulas para o coração e chocolate, além de bacon, salsichas e a própria capa do livro.
Com o espírito de praticar o que estão pregando, Antonelli e Carmody experimentaram novas técnicas de comunicação no planejamento e na apresentação de "Talk to Me". O processo de pesquisa e seleção das obras foi gravado em um site aberto que ainda continua funcionando ao vivo no wp.moma.org/talk_to_me. Elas também acrescentaram códigos QR (Quick Response) às legendas dos objetos na exibição e em páginas relevantes do catálogo. Para saber mais sobre alguma obra, você escaneia o código QR com seu smartphone e entra em uma área especial do site do MoMA.
Por mais divertido que "Talk to Me" prometa ser, a mostra antecipa alguns problemas desta nova onda de designers da comunicação. "Ainda há um desequilíbrio entre o valor estético e o valor funcional de alguns projetos, e os designers precisam se esforçar muito mais para explicar o que estão fazendo", diz Antonelli. "Esta área está mudando muito rapidamente, mas ainda estamos lidando com os velhos clichês, além de ainda acrescentarmos alguns outros, novos."
Tradutor: Érika Brandão