INDEX:, um prêmio de design idealizado para melhorar a vida das pessoas
Alice Rawsthorn
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INDEX: Design to Improve Life
Projeto habitacional em Monterrey, México, do grupo de arquitetura chileno Elemental, um dos vencedores do prêmio de design dinamarquês INDEX: de 2011
COPENHAGEN – Um kit de primeiros socorros criado para a utilização em áreas de calamidade. Um forno que gera eletricidade autônoma. Um vaso sanitário automontável. Uma escola feita com bambus. Um parque público construído em uma estrada de ferro abandonada. Um avião elétrico. Um playground feito com pneus velhos. Um modo inteligente de transformar embalagens de ajuda humanitária contra a fome em bolas de futebol.
Todos estes projetos estavam entre os sessenta finalistas do prêmio mais valioso de design, o INDEX: Design to Improve Life Award, de 500 mil euros e que, como sugere o nome, celebra exemplos de design que melhoram a qualidade de vida das pessoas. Os cinco vencedores do prêmio de 2011 -que foram anunciados recentemente em Copenhagen- receberão 100 mil euros cada, ou cerca de 140 mil dólares.
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Hövding, colar inflável desenvolvido pelas designers suecas Anna Haupt e Terese Alstin para ciclistas.
O artefato se enche de ar e protege a cabeça
do usuário em caso de acidente, como um airbag
Coletivamente, os vencedores deste ano ilustram como as áreas de sustentabilidade e design humanitário se diversificaram desde o primeiro INDEX: Award, que é um prêmio bienal e, em 2005, foi sediado no Chile. Entre eles estão um programa habitacional no Chile, uma iniciativa de desenvolvimento urbano na Coreia do Sul, uma alternativa para os capacetes de ciclistas da Suécia, um projeto de óculos gratuitos no México e um movimento global de delegação de autoridade para crianças na Índia.
Generosidade
O INDEX: não é o prêmio de design mais generoso do mundo só em termos financeiros. Ele é um dos poucos prêmios que acrescentou uma contribuição significativa ao discurso do design. Há inúmeros prêmios ao redor do mundo e, apesar de suas pretensões grandiosas, muitos deles são indistinguíveis.
Por volta de maio deste ano houve um rebuliço na Alemanha, quando o Conselho de Design Alemão solicitou indicações para o Prêmio de Design Alemão 2012. Alguns dos então futuros indicados entenderam que estavam sendo convidados para participar de uma premiação diferente, o Prêmio de Design da República Federal da Alemanha. Não é de se espantar a confusão. Os nomes são muito parecidos. Dizem que alguns jurados haviam concordado em fazer parte da bancada um prêmio achando que ela ia julgar a outra premiação.
O INDEX: conseguiu estabelecer um papel construtivo desde o seu início. A Dinamarca possui uma rica herança no design, graças à perícia dos arquitetos e designers modernistas da metade do século 20, como Arne Jacobsen, Hans Wegner e Verner Panton. Uma década atrás, o governo dinamarquês resolveu apostar neste legado ao criar um novo e internacional prêmio de design. A equipe do INDEX:, sob a batuta do seu presidente Kigge Hvid, se esforçou para que o prêmio refletisse as qualidades humanistas do modernismo dinamarquês ao celebrar exemplos das disciplinas emergentes de design responsável ética e ambientalmente.
Crise ambiental e social
Aquelas áreas do design eram tão novas na época que muitos dos finalistas para o primeiro prêmio INDEX: em 2005 eram conceitos, e não projetos realizados. O terreno, desde então, vem mudando dramaticamente. “Em 2007, quando a segunda premiação foi anunciada, a área ainda estava um tanto insegura, mas certamente foi crescendo e se enchendo de energia”, lembra o Hvid. “Em 2009, o mundo parecia estar do nosso lado e corporações internacionais foram se envolvendo.”
Muitos foram os fatores que contribuíram para o surgimento do interesse e do investimento no design humanista, do crescimento da percepção sobre a crise ambiental às desilusões com os modelos estabelecidos e utilizados para atacar os problemas sociais e gerar desenvolvimento econômico. Mas o INDEX: contribuiu positivamente ao identificar bons exemplos de boas práticas e chamando atenção para elas, dentro e fora da comunidade do design.
Dois dos vencedores da premiação de 2011 exploram meios de melhorar a qualidade de vida para a metade da população global que hoje vive nas cidades, geralmente superpopulosas e frenéticas. Um é o projeto habitacional criado para a cidade mexicana de Monterrey pelo grupo de arquitetura chileno Elemental. Fundos do governo são utilizados para construir metade de cada uma das 70 casas do projeto, deixando que os moradores completem a construção conforme a possibilidade. A primeira “metade” de cada casa é uma casca habitável, incluindo cozinha, banheiro e escada. Os arquitetos deixaram espaços para que os moradores possam ampliar a residência.
Vencedores: da reabilitação de uma cidade e óculos gratuitos
Outro vencedor, o Design Seul, chama atenção para os problemas de toda uma cidade. Seul, a capital da Coreia do Sul, foi reconstruída como um arquétipo de selva de pedra nos anos 1960 e 1970, depois de ter sido devastada durante a Guerra da Coreia. Hoje, tem mais de 10 milhões de habitantes. O projeto Design Seul foi iniciado pelo governo metropolitano da cidade para deixa-la mais verde, mais saudável e mais agradável. O resultado inclui a revitalização das margens do rio, a construção de novos espaços públicos e o plantio de 3,3 milhões de árvores.
O INDEX: também premiou uma iniciativa sueca que encoraja o ciclismo seguro, numa época em que ele vem se tornando cada vez mais popular como forma de transporte alternativo e ecologicamente responsável. As designers Anna Haupt e Terese Alstin desenvolveram o Hövding, um colar inflável para ser usado pelos ciclistas que detestam os capacetes de segurança. Em um acidente, o colar infla e se transforma em capacete, protegendo a cabeça do ciclista como um airbag.
Igualmente engenhoso é o programa Ver Melhor para Aprender Melhor, que fornece óculos de grau gratuitos para os 11% de crianças mexicanas cuja educação poderia ser retardada por problemas de visão. Fuseproject, o grupo de design baseado em São Francisco, desenvolveu óculos com armações em duas partes que permite às crianças escolherem suas próprias cores, além de facilitar a troca das lentes. O custo para o teste de visão de uma criança, somado às lentes sob medida e à armação, pode chegar a custar meros dez dólares. Mais de 350 mil crianças já receberam óculos gratuitos.
Outro vencedor dentro do universo educacional é o Design para Mudança, um movimento global fundado na Índia por Kiran Bir Sethi, um designer que dirige uma escola experimental em Ahmedabad. Design para Mudança é um kit de ferramentas que desafia as crianças a identificar alguma coisa que as preocupa, e a encontrar a solução. Foi distribuído para 300 mil escolas em 33 países.
Até agora, entre os resultados estão buracos tapados em estradas, economia para a compra de computadores nas escolas, a coligação para acabar com casamentos entre crianças e centenas de outras iniciativas, que são tão dinâmicas que as crianças que as instigaram poderiam perfeitamente se tornar os próximos vencedores do INDEX:.
Tradutor: Érika Brandão