Aumento do preço dos imóveis muda tradições na China

Antonio Broto

Pequim, 19 mar (EFE).- O preço elevado que os imóveis estão adquirindo na China, especialmente em grandes cidades como Pequim e Xangai, está mudando um antigo costume do país: o dos noivos entregarem uma casa a suas amadas antes do casamento.

Desde tempos imemoráveis, o marido fornece a casa no casamento. O costume nasceu quando as mulheres não estavam integradas ao mercado de trabalho.

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Muitos noivos chineses perderam suas noivas pelo simples fato de não poderem pagar a moradia, exigência das moças e dos pais.

"Meu noivo não tem muito dinheiro. Contei aos meus pais e eles estão bastante tristes. Eles não pensam em ajudá-lo a comprar uma casa", contou à Agência Efe Zhao Fangfang, que, aos 27 anos, trabalha como jornalista em uma revista de moda de Pequim.

Zhang, que tem 26 anos e estuda espanhol, pensa o mesmo. O primeiro ditado em castelhano que ela aprendeu nas aulas que tem foi o famoso "Quem se casa, quer casa". Comprada pelo marido, claro.

Todas essas ideias, uma compensação pela época em que os pais da noiva tinham que pagar grandes dotes aos do marido e "perdia" um membro da família (a mulher ia viver na casa dos pais dele), perderam força nos últimos anos, à medida que os preços das casas atingiram níveis estratosféricos.

Em janeiro de 2010, o preço de um imóvel nas grandes cidades chinesas era 30% maior que um ano antes. No núcleo urbano de Pequim, o metro quadrado é cotado a pelo menos 30 mil iuanes, um preço equiparável ao de países como a Espanha.

Nesse contexto, as famílias começam a adotar posições mais moderadas e menos sexistas na hora de comprar uma casa. Muitos recém-casados começam sua vida em apartamentos alugados, algo impensável até pouco tempo na mentalidade chinesa que vê a propriedade da terra como algo muito importante.

"Comprei minha casa junto com o meu marido, e nossos pais estiveram de acordo", destaca Zhou Fengyan, dona de uma pequena empresa familiar. "Estivemos casados vivendo de aluguel cinco anos. Não vejo porque ter um imóvel seja uma condição necessária para se casar", argumenta.

"No campo sim, essa tradição continua. Os homens têm que preparar a casa para se casar, e minha família vem do campo. Mas agora trabalhamos na cidade e é preciso mudar as ideias", opina Zhou, de 31 anos.

Gou Linjie, estudante de 22 anos, também acha que deve pagar a futura casa junto com o seu noivo, embora defenda que é preciso ter um imóvel para poder casar. "Só quando tivermos uma casa podemos pensar no nosso casamento", afirma.

"A felicidade não tem relação com a moradia, mas uma casa dá maior sensação de estabilidade", conclui Yang, 33 anos, também jornalista. "Para as meninas jovens não é muito importante, mas para as que têm mais de 30 anos é indispensável", diz.

A mudança de mentalidade também se reflete nas pesquisas. Cerca de 18% das mães permitiriam que suas filhas se casassem com maridos sem casa. Há alguns anos, poucas estariam dispostas a isso.

Já 76% das mães questionadas se mostram dispostas a ajudar a pagar a primeira casa quando a filha casar. Inclusive, 20% delas estariam dispostas a que o genro vivesse um tempo com os sogros nos primeiros meses de casados, algo que na China de poucas décadas atrás seria um autêntico escândalo.

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