Porque há poucos designers negros e porque a presença deles no setor é importante
Alice Rawsthorn
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Daniel Hakansson
Para Alice Rawsthorn, a cultura do design vai se anular a menos que reflita a sociedade como um todo. Na foto, peças do designer negro norte-americano Stephen Burks
LONDRES - Uma noite, na escola de design em Londres, Eddie Opara estava trabalhando tarde da noite com um amigo, Kojo Boateng. "Um amigo nosso chegou e perguntou por que a gente ainda estava ali. Kojo disse: 'Porque somos negros. Temos que trabalhar mais que você.’ Não sei se era verdade, mas foi assim que nos sentimos."
Vinte anos depois, o Opara é sócio do Pentagram, prestigiado grupo de design de Nova York, e Boateng é diretor de design do ITN, o canal de televisão de notícias em Londres. Eles se juntaram ao grupo de elite dos designers negros bem-sucedidos da Europa e da América do Norte, que inclui Gail Anderson nos gráficos, Joshua Darden na tipografia e o designer de mobiliário Stephen Burks.
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Stephen Burks: "ainda existe alguma desigualdade, mas eu nunca me senti discriminado"
No entanto, sucesso como o deles ainda é relativamente raro. Mulheres reclamam há muito tempo que o design tem sido um universo muito masculino, mas universo do homem branco seria uma definição mais precisa. "Agora há mais designers negros surgindo", diz Eddie Opara. "Mas é frustrante que não haja mais de nós."
É mesmo, apesar de o design já ter percorrido um longo caminho desde que Charles Harrison tentou se juntar ao grupo de designers da Sears, Roebuck & Company, em Chicago, em 1956. Um gerente lhe disse que havia uma política não-oficial contra a contratação de pessoas “de cor”. A Sears acabou contratando-o em 1961, e ele trabalhou lá por 32 anos, tornando-se designer-chefe e desenvolvendo mais de 600 produtos, muitos deles best-sellers.
Mas os designers negros, mesmo aqueles realizados em sua profissão como Harrison, foram amplamente ignorados pelo mundo do design até muito recentemente. Historicamente, o design vem tendo dificuldades com a diversidade. Culturalmente, ele foi dominado pelo modernismo europeu ao longo do século 20, época em que seus valores deram forma ao desenho industrial ao redor do mundo, até mesmo na América do Norte. Economicamente, o design foi definido pela padronização e pela necessidade de explorar economias de escala pela produção de grandes quantidades das mesmas coisas.
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Gail Anderson pertence à elite do design gráfico nos Estados Unidos
O design está se tornando mais eclético, mas de modo surpreendentemente lento em alguns aspectos. A tecnologia digital corroeu os benefícios econômicos da padronização, e o design reflete cada vez mais a diversidade cultural, tanto dos mercados ocidentais estabelecidos, quanto dos mercados em expansão na Ásia, África e América Latina, onde uma nova geração de designers está emergindo. Esses designers estão definindo suas próprias abordagens, e estas estão influenciando os colegas em outros lugares.
Os designers negros estão se beneficiando dessas mudanças porque o design é uma profissão meritocrática. É difícil para todos, especialmente para quem está no topo. Nenhum designer assegura um emprego cobiçado como Boateng ou desejadas comissões internacionais como Burks sem talento, coragem, carisma e determinação, mas eles costumam ser julgados pelo desempenho. "É claro que alguma desigualdade ainda existe, mas eu pessoalmente nunca me senti discriminado", diz Burks. "Espero que a cor da minha pele não altere a maneira como as pessoas veem meu trabalho, ou que altere, de qualquer modo, a voz ou o impacto que meu trabalho pode ter."
"Eu realmente não encontrei nenhum problema", Anderson acrescenta. "Quando trabalhava no “The Boston Globe” anos atrás, alguém na entrada perguntou se eu era um office boy. Pensei: 'você está brincando?’. Todas as pessoas negras têm histórias tão ridículas quanto essa. Mas eu não acho que as indústrias criativas focam na questão da cor da pele tanto quanto outras áreas. É tudo uma questão de talento e da sua capacidade de se comunicar de forma eficaz."
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Eddie Opara: "o mundo do design é dos homens brancos, embora os negros estejam crescendo"
Ainda assim, relativamente poucos jovens negros estão optando por seguir carreiras em design. O número de designers de ascendência asiática vem crescendo na Europa e América do Norte, e alguns já conquistaram cargos altos em empresas como a Apple.
Na Rhode Island School of Design, o número de alunos que se identificam como asiáticos passou de 9,2% em 1990 para 14,53% em 2010, enquanto o número de estudantes negros caiu de 2,5% para 1,65%.
Um padrão semelhante se repete em outros lugares. "A proporção de estudantes afro-americanos em cursos superiores nos Estados Unidos segue próxima à da população afro-americana, entre 13% e 14%, mas nas escolas de arte e design, essa proporção é mais perto de 4%", diz Joel Torres, reitor da Parsons The New School for Design, em Nova York.
Por quê? Torres culpa a falta de educação artística nas escolas públicas dos Estados Unidos e a pouca percepção de carreiras nas áreas de arte e design, embora esses fatores afetem todos. Ele acredita que os estudantes afro-americanos, mesmo os que vêm de ambientes ricos, também são desencorajados pela falta de modelos negros. Parsons tomou a iniciativa de apontar o problema da diversidade e explorou as questões fundamentais em na conferência “Black Studies in Art and Design Education”, no final de março.
A conferência ofereceu uma oportunidade para estimular o debate sobre a diversidade cultural no design, assunto que tem pouca tradição de discurso crítico se comparada à tradição no meio das artes. Igualmente promissora é a exposição individual de Burks, aberta em 31 de março no Studio Museum, no Harlem. O museu tem estado na vanguarda do debate sobre a diversidade no mundo da arte, e Burks exibe sua primeira exposição de design industrial.
A relativa escassez de designers negros importa? No final das contas, vem existindo certo progresso. A Organização dos Designers Negros nos Estados Unidos tem mais de 10 mil membros. Os sucessos, como Burks e Anderson, provam que designers talentosos e negros podem ter uma carreira estelar. E alguns preferem não discutir o assunto por medo de ser definido por ele.
Mas, quanto menos modelos comportamentais visíveis, maior a probabilidade de talentosos jovens negros continuarem a ignorar a carreira em design. O resto de nós também vai desperdiçá-la. Precisamos dos melhores designers, e não os teremos se eles só surgirem de seletos extratos da sociedade. A cultura do design vai se anular, a menos que ela reflita a sociedade como um todo.
"Quando ouço falar de outros designers negros fico feliz em saber que eles estão batalhando e fazendo um bom trabalho como qualquer outro", diz Anderson. "Eu realmente acho que a coisa com as mulheres é um problema mais difícil. Em última análise, ser um homem branco é provavelmente ainda mais fácil. Não há: 'Olha, tem um ...’ ”
Tradutor: Erika Brandão