Construção civil vê mão de obra escassa e poupança se esgotando

Aluísio Alves

FORTALEZA (Reuters) - Entidades da construção civil já enxergam na escassez de mão de obra e no esgotamento dos recursos da poupança para financiamento os principais gargalos para expansão do setor nos próximos anos.

"A mão de obra já está ficando escassa", disse o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Luiz Antonio Nogueira de França, em evento do setor nesta quinta-feira.

Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, já há relatos mais sérios nesse sentido em estados como Bahia e Rondônia, e a situação tende a piorar nos próximos anos, por dois motivos.

Um deles é o início das obras relacionadas à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016. O outro, mais imediato, é o começo da construção das cerca de um milhão de moradias no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida. Isso, sem contar a segunda etapa do projeto, que deve ser anunciada no fim deste mês.

"Vai ter uma avalanche de obras ao mesmo tempo. Se for necessário, vamos buscar pessoas em áreas vizinhas, como Colômbia, Bolívia e Peru."

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho divulgados na quarta-feira mostraram que a construção civil foi uma das principais responsáveis pela geração recorde de empregos com carteira assinada em fevereiro no país.

Ao mesmo tempo, as entidades já enxergam o esgotamento dos recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que é a principal fonte para financiar compradores e construtores de casas.

Segundo a Abecip, a demanda por financiamentos vem crescendo a uma taxa de 50 por cento ao ano, em ritmo três vezes superior ao da poupança.

De acordo com a legislação, 65 por cento dos recursos da poupança devem ser destinados para empréstimos imobiliários. Em valores atuais, isso corresponderia a aproximadamente 170 bilhões de reais dos 270 bilhões de reais do estoque de poupança no país.

A Abecip estima que os financiamentos do setor atinjam algo em torno de 50 bilhões de reais no fim de 2010.

"No ritmo atual, mais uns três anos e os recursos da poupança não serão mais suficientes", disse França.

"É preciso ter novas fontes de recursos", concordou Simão, ressalvando, no entanto, acreditar que os recursos da poupança podem ser suficientes pelos próximos dez anos.

(Edição de Bruno Marfinati)

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