Fazer book sensual vira moda

FERNANDA JUNQUEIRA
Colaboração para o UOL

Posar com lingerie sexy - ou totalmente à vontade - para as lentes de um profissional já não é mais privilégio das estrelas da TV. Desde que Manoel Carlos, autor da novela global “Viver a Vida”, colocou no horário nobre a personagem Ingrid, a procura de “mulheres reais" por books sensuais só aumenta. Interpretada pela atriz Natália do Vale, Ingrid é uma fotógrafa expert em retratar a beleza feminina madura. Na trama, as clientes querem desde presentear maridos (e amantes) com fotos ousadas até realizar uma antiga fantasia ou atender aos chamados da própria vaidade.

 

Para criar Ingrid, a equipe de produção de “Viver a Vida” se inspirou no trabalho da Agência Nude, de São Paulo, empresa criada pelas fotógrafas e designers gráficas Darcy Toledo, 38 anos, e Jane Walter, 32 anos. A repercussão não poderia ser mais positiva. "Ao acompanharmos os capítulos, estamos bem satisfeitas e até nos reconhecemos em algumas cenas. Mas acreditamos que o mais importante é que a novela amplia os horizontes e faz com que o público feminino se interesse pelo assunto, refletindo e comentando, o que é ótimo. Estamos recebendo vários e-mails de mulheres que estão se identificando com o tema e até mesmo passaram a pensar na possibilidade de realizar um ensaio fotográfico. Muitas delas voltaram a pensar em realizar uma fantasia que, antes, estava adormecida como um sonho da adolescência", comenta Darcy.

 

Assim como na novela, a tendência do book sensual se mantém, principalmente, no trabalho de profissionais do sexo feminino - com as fotógrafas, as clientes se sentem mais à vontade para posar. "Converso bastante com elas antes de cada sessão, para deixar o clima bem descontraído", afirma Kica de Castro, 33 anos, de São Paulo. Como não bebe nada que tenha álcool, Kica prefere brincar e fazer piadinhas para ajudar a mulherada a relaxar, mas, em geral, os ensaios feitos pelas outras profissionais são regados a uma garrafa de prosseco - a exemplo do que acontece na novela e nas sessões das revistas masculinas.

 

  • Dilvugação/Scarlet Boutique

    Márcia Cunha em foto sensual para divulgar o serviço oferecido pela sua butique, a Scarlet

Aliás, todo o processo dos books sensuais conta com vários elementos-fetiche dos ensaios de publicações voltadas ao público masculino. O objetivo é mesmo fazer a mulher se sentir uma deusa. "O ensaio é discutido minuciosamente com a cliente. Muitas já chegam com ideias prontas e até trazem recortes de revistas masculinas, dizendo 'quero essa foto'. Procuramos, então, conciliar as expectativas das clientes com a proposta da fotógrafa", conta Márcia Cunha, proprietária da butique sensual Scarlet, de São Paulo, que mantém uma parceria com a fotógrafa Carmen Fernandes para a realização de books sensuais. "Muitas vezes atendemos o desejo da cliente e copiamos a foto, mas nem sempre é naquela posição que ela fica mais bonita, porque é mulher 'de verdade', não uma modelo ou atriz habituada com os flashes e os refletores. Outras imagens acabam surpreendendo muito mais", completa Márcia.

 

As faixas de preços variam - R$ 800, com Kica de Castro; R$ 1.250, na Scarlet; e a partir de R$ 2.510, na Agência Nude - e incluem cabelo, maquiagem, figurino e o próprio book, com um número predeterminado de fotos e direito a tratamento de Photoshop. Os adicionais - CD ou DVD com todas as imagens, locação e acabamentos diferentes para os books - são discutidos à parte. E, embora boa parte das clientes invista no book como um presente para o marido ou o namorado, a presença de homens é proibida no estúdio, para não constranger ou intimidar - além, é claro, de não estragar o "elemento surpresa".

 

Autoestima

 

A verdade é que, segundo as entrevistadas, o book sensual faz um bem enorme para a autoestima e dá uma bela aquecida no relacionamento. A bancária Clessira Curi Ramos, 38 anos, de São Vicente (SP), posou para as lentes das fotógrafas Darcy Toledo e Jane Walter a pedido do marido. "Ele descobriu o trabalho da Agência Nude em uma revista e ficou empolgadíssimo. Confesso que, a princípio, senti vergonha, mas resolvi marcar a sessão de fotos. Acredito que só o fato de ter agendado o ensaio já deu aquele 'up' no casamento", destaca. Detalhe importante: Clessira é deficiente física e usa uma prótese na perna direita, abaixo do joelho, desde os 12 anos de idade. "A deficiência nunca me impediu de ser vaidosa e de cuidar de mim, mas me senti mais bonita com as fotos sexy. É uma experiência que recomendo a todas as mulheres, porque alimenta, e muito, o ego."

 

É uma experiência que recomendo a todas as mulheres, porque alimenta, e muito, o ego

Clessira Curi Ramos, 38 anos

Mulheres de todas as idades e tipos físicos têm procurado sentir a mesma realização de Clessira. Para Márcia Cunha, da Scarlet, as diferenças de comportamento entre elas são nítidas. "As clientes na faixa dos 20 anos querem agradar o parceiro e são as mais preocupadas com barriga, celulite, estrias... Já as de 40 anos em diante não ligam para essas coisas porque já viveram muita coisa. São seguras, autoconfiantes, decididas e querem fazer o book por vaidade pessoal, para agradar a si mesmas", diz Márcia, que também posou seminua para divulgar o serviço. "O nosso público é bem variado. Atendemos mulheres na faixa dos 20 até mais de 60 anos, cada uma com sua história e um motivo para estar lá. Hoje, a maior procura é de mulheres entre 30 e 45 anos. Algumas se sentem plenas e realizadas e nos procuram para registrar este momento; outras estão passando por períodos complicados e precisam criar uma nova imagem para levantar a autoestima", explica Jane Walter, da Nude Art.

 

Para a administradora de empresas Lidiane Carvalho, 30 anos, mineira radicada em São Paulo, a experiência foi libertadora. "Tive uma educação muito rígida, típica de família tradicional mineira, e sentia vergonha de me expor. Aprendi que vulgaridade é diferente de sensualidade e que exaltar a própria beleza é muito bom", diz ela, que é sócia de Márcia na butique Scarlet.

 

Ou seja, posar para um book sensual funciona como um aditivo e tanto à autoestima. A mulher passa a se olhar mais, a se cuidar mais e a acreditar mais no próprio potencial de beleza e de sedução. Como bem resume Darcy Toledo, da Agência Nude: "A sensualidade não está unicamente ligada a um corpo escultural. Cada mulher tem o seu jeito de ser e de se sentir; cada uma, na sua individualidade, sabe o que seduz um homem - às vezes, é um olhar, um sorriso... Isto é o mais bacana deste trabalho, ajudar a revelar a sensualidade de cada mulher".

 

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