Sinais, dicas e histórias de quem se separou e sobreviveu
RENATA RODE
Colaboração para o UOL
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Getty Images
Segundo dados do IBGE, a taxa de separações no país cresceu 200% nos últimos 23 anos
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É inevitável. Quando o relacionamento começa a passar por muitas adversidades, vem a dúvida: será que eu separo? Muitos casais vivem atualmente uma vida insatisfeita pelo medo de enfrentar a separação. “Às vezes, eles nem pensam na própria felicidade, e sim no julgamento que sofrerão por parte da sociedade, como também no trabalho que vão ter em buscar, depois da frustração, um novo parceiro ou parceira para dar continuidade à vida afetiva”, explica a psicóloga Bruna Spotti. Esse sentimento tomou a vida e os pensamentos de R.R., publicitária de 29 anos, que acaba de romper o segundo casamento. “Na primeira vez em que me separei não pesou tanto, porém nesta última pensei muito no que as pessoas iam dizer e resolvi me convencer de que eu precisava ser feliz e, para isso, não poderia me importar com o julgamento alheio. Hoje, quando ouço piadas do tipo: ‘nossa, você vai ficar para tia’, eu devolvo com um sorriso e pronto”, explica.
Divórcio não é mais novidade como antigamente. Segundo estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de separações conjugais no país cresceu 200% nos últimos 23 anos. E esse aumento tem muitas explicações. A evolução da exigência pelo parceiro, a revolução e independência femininas, a descoberta da infidelidade por parte de um ou outro e até a insatisfação sexual são motivos que levam à dissolução de um casamento.
Um estudo realizado pela marca de desodorantes AXE e o Instituto QualiBest, revelou três características marcantes nas mulheres atuais, quando comparadas aos homens: elas mudam constantemente suas opiniões, tem facilidade em conversar sobre todos os tipos de assunto e são mais adaptáveis às mudanças. “Com tantas quebras de paradigmas, necessidades de mudanças e busca pelo novo, as mulheres perdem o interesse por uma novidade rapidamente”, declara Maria Arminda do Nascimento Arruda, professora titular de Sociologia da USP (Universidade de São Paulo) e coordenadora da pesquisa.
Depois que me acostumei com a separação foi o máximo descobrir que ainda estou viva, que ainda sou mulher e, o melhor, que ainda sou desejada. Estou amando redescobrir tudo isso!
E como são as mulheres que conduzem muitos relacionamentos, elas acabam por decidir o destino dos dois. É o caso de M.J., 32 anos, representante de vendas, recém-separada: “Para ele estava tudo bem, mesmo com a gente se falando menos a cada dia. Impressionante, quando eu cheguei para pedir o divórcio, ele me perguntou o motivo. Quando enumerei, ele concordou assustado”.
Isso é normal, já que são as mulheres que provocam a DR – discutir a relação. “A mulher é mais questionadora em tudo, sempre foi e será assim. Somos mais perceptivas a sinais que passam pelos homens sem efeito algum, porque somos mais panorâmicas. Homens são mais focados e objetivos. Isso vem da história da evolução de ambos”, ensina Bruna. Sim, antigamente, eles saíam para caçar e as mulheres ficavam nas cavernas acompanhando o desenvolvimento dos filhos e prestando atenção em tudo o que acontecia à sua volta.
E como saber se chegou o momento?
“Depois que me acostumei com a separação foi o máximo descobrir que ainda estou viva, que ainda sou mulher e, o melhor, que ainda sou desejada. Estou amando redescobrir tudo isso!”, diz a empresária A. G., 35 anos. É claro que para tomar uma decisão importante como essa você precisa ter certeza. Alguns sinais podem ajudar a identificar se o relacionamento está indo por água abaixo ou não. A ausência de sexo é, sem dúvida, um alarme importante, mas você precisa notar se isso é uma fase ou virou regra na vida do casal.
Quando se começa a culpar o outro pelo próprio sofrimento, pronto, eis o alerta vermelho. Daí para o fim é um pulo
“Ficamos sem nos beijar por quase um ano e chegou um momento em que a falta de carinho era normal entre nós. A rotina, a chegada do segundo bebê, problemas financeiros e a correria do dia a dia, além do meu inesperado ganho de peso devido a uma depressão oculta, contribuíram para tudo. Só enxerguei que precisava tratar de mim e do meu casamento quando tive certeza de que meu marido me traía. Aí, corri atrás”, diz a dentista J. A., 29 anos, que quase se separou, mas conseguiu retomar a felicidade a dois, depois de perceber os problemas e conversar com o parceiro.
Segundo os terapeutas, não existe uma fórmula mágica. Tudo depende muito de um diálogo que deve existir entre os dois e, principalmente, de conhecimento interno de cada um. Às vezes, é preciso sair um pouco da história e se colocar como espectador mesmo. “Costumamos achar que o amor morre quando paramos de receber, mas ele já está morto bem antes, quando paramos de oferecer. Tanto é que, para decidir se voltamos ou não, naquelas infindáveis conversas cheias de exigências, achamos que a relação só pode continuar se o outro fizer certas coisas”, afirma Gustavo Gitti, criador do blog sobre relacionamentos lúcidos: www.nao2nao1.com.br. “Quando se começa a culpar o outro pelo próprio sofrimento, pronto, eis o alerta vermelho. Daí para o fim é um pulo”, conclui.
Para recomeçar
Como tudo que é novo, recomeçar a vida depois de uma separação não é somente um mar de rosas. Quando há filhos envolvidos então, as seqüelas são maiores já que os sentimentos de dor e perda afetam outras pessoas que dependem de você também. O melhor nesse momento, por incrível que pareça, é manter o bom humor. Mas selecionamos algumas informações que vão convencê-lo que não é o fim do mundo, sabia?
Um bom indício é a quantidade de solteiros na praça que tem aumentado ultimamente. Segundo estatísticas do IBGE, o número de homens e mulheres que vivem sós hoje no país é praticamente igual (49,6% de homens e 50,4% de mulheres). Esse número é um mix de jovens que moram sozinhos por conta de emprego ou estudo longe de casa, mas também resultado do aumento de separações. Além disso, o estudo leva em consideração o crescente público gay com a liberdade de assumir sua orientação sexual e a independência e exigência feminina em encontrar um parceiro à altura. Aliás, uma das dicas é: não se apresse em achar alguém. “Mulheres independentes demais assustam os homens. Elas são bonitas, dinâmicas e inteligentes, assim procuram um parceiro com o mesmo nível ou acima, inclusive, financeiro", diz Sheila Chamecki Rigler, pedagoga e diretora da Consultoria em Relações Humanas e Agência de Casamentos Par Ideal.
Para Ana Leandro, autora do livro e blog “Diário de uma Divorciada” (http://diariodeumadivorciada.blogs.sapo.pt), há vida depois do divórcio e ela não é nada má. “O divórcio é uma alternativa de vida; uma hipótese de mudança, de recomeço equivalente a apagar e fazer de novo. Por um lado, é uma necessidade de libertação; por outro, uma espécie de rendição. Um divórcio é sempre um passo. Um passo pequeno, tímido ou decidido, mas é apenas um passo. Caminhar é outra coisa”.
Quando me separei, usei três armas: não ligar para o que os outros falam, manter o bom humor a todo custo e procurar me distrair com outras 364 coisas na vida, sem ficar analisando meu passado. Funcionou.Hoje estou noiva e feliz
Sim. Você deve encarar como um novo desafio e ter o bom humor sempre como aliado. Nos Estados Unidos, é comum os casais fazerem festas de dissolução das uniões, juntos ou não. Há até empresas especializadas que criam todo o ambiente com direito a jogo de dardos com a cara do ex ou da ex. “É uma espécie de apelo em um momento de carência, já que o divorciado acaba sendo a atração da festa e reúne os amigos, dizendo nas entrelinhas que precisará do apoio deles, e o tem, é claro. É uma forma de transparecer os sentimentos de maneira mais explosiva, como tudo que acontece nessa nova fase em que a pessoa está com sede de viver o novo”, comenta Bruna.
“Quando me separei, usei três armas: não ligar para o que os outros falam, manter o bom humor a todo custo (para mim isso foi como uma defesa) e procurar me distrair com outras 364 coisas na vida, sem ficar analisando meu passado. Funcionou. Hoje estou noiva e feliz”, afirma a escritora R. M., 34 anos.
Volta ao mercado
Uma das grandes dúvidas quando se retoma a vida de solteira ou de solteiro é como agir durante ou depois de uma paquera. Anote:
- Se o pretendente se interessou, ele liga. Não tem tia morta, trabalho ou problema que não o faça ligar caso ele tenha gostado de você. Quando um homem está a fim, ele corre atrás.
- Mulheres, diga não aos homens comprometidos, afinal, se eles não conseguem resolver problemas em um relacionamento, que dirá em dois.
- Homens, diga não às mulheres casadas porque mais do que viver uma aventura, você pode acabar gostando e sofrendo com isso (investindo no relacionamento superficial por estar carente).
- Quando ouvir “você é boa demais para mim”, acredite: realmente você é e por isso ele não te merece (essa é uma das piores desculpas da face da Terra).
- Se você tem intenções sérias de relacionamento, deixe isso claro depois de alguns encontros. Afinal, ninguém é obrigado a ficar adivinhando se está ou não namorando, certo?
Para se dar bem
O especialista em relacionamentos Gustavo Gitti dá três dicas infalíveis para encarar o pós-divórcio numa boa:
- Evite conselhos alheios e dirija o foco para estabelecer uma vida rica de experiências positivas. “Quando meu último relacionamento terminou (de cinco anos, três como casados), procurei passar um tempo sozinho e alinhar meu direcionamento na vida. Aprendi dança de salão, meditei mais regularmente, me envolvi com projetos mais amplos, comecei um site para ajudar outros em seus relacionamentos, enfim me mantive ocupado e com a cabeça em plena produtividade.”
- A chave para superar a sensação de abandono é descobrir quais são suas habilidades e oferecê-las ao mundo, beneficiando e movimentando o máximo possível de pessoas em direções positivas.
- Se você se envolver com outros por carência, vai continuar se sentindo carente, mesmo depois de passar 30 noites com parceiros diferentes. “Se você começar a se mover com liberdade e autonomia, se começar a oferecer experiências aos outros, uma noite é suficiente para deixá-lo feliz ao ver felicidade nos olhos do outro. É esse o tipo de felicidade que nos satisfaz.”
Para manter um relacionamento
Vamos direto ao ponto? Dicas para casais que moram juntos, por Gustavo Gitti:
- Ame a rotina e cada momento que ela proporciona.
- Elogiem, apreciem e estimulem as qualidades positivas um do outro.
- Sintam a felicidade e o prazer de proporcionar felicidade e prazer ao outro no sexo e liberem-se totalmente.
- Sonhem juntos, construam universos de imaginação e poesia com o qual vocês possam brincar diariamente.