Meu filho é homossexual, e agora?

WILSON DELL'ISOLA
Colaboração para o UOL

A verdadeira orientação sexual do ex-BBB Dicesar foi descoberta pela família quando ele tinha 15 anos. “Ele nunca havia demonstrado qualquer indício, sempre foi muito discreto e nunca apresentou nada diferente. Mas nós o amamos independentemente de sua orientação sexual”, declara Alice dos Santos, mãe do paranaense de 44 anos, desclassificado recentemente do “Big Brother Brasil 10”.


Para a maioria dos pais, no entanto, não é fácil ouvir palavras "Pai, mãe, eu sou gay". Alguns conseguem aceitar a notícia com mais naturalidade; outros passam por um período doloroso de adaptação, que é acompanhado por choque, raiva e culpa. De acordo com psicólogos, estes sentimentos são compreensíveis, tanto por desmontar uma imagem já construída sobre o filho, quanto por calcular a discriminação que ele poderá sofrer pela sociedade durante sua vida. Seja como for, o que os pais precisam fazer é aceitar e aprender a lidar com a nova situação, pois é a melhor alternativa – para não dizer única – para manter uma boa relação com o filho.

 

É fundamental perceber que não importa com quem o filho se relaciona ou se ele é heterossexual ou não. No papel de pai e mãe, basta amá-lo e querer a sua felicidade

Regina Navarro Lins, psicanalista e sexóloga

Para a psicanalista e sexóloga carioca Regina Navarro Lins, autora do livro “A Cama na Varanda” (Editora Best Seller), os pais precisam dar apoio, porque a descoberta da homossexualidade gera muita angústia no filho: “Os pais que descobrem que o filho é homossexual não devem ser tomados por um sentimento de decepção, mas aceitar que, se por um lado este poderia não ser o seu sonho, por outro, nenhum filho veio ao mundo para realizar os sonhos dos pais. É fundamental perceber que não importa com quem o filho se relaciona ou se ele é heterossexual ou não. No papel de pai e mãe, basta amá-lo e querer a sua felicidade.”

 

 

Como dar apoio
De acordo com a cartilha elaborada pela Parents, Families and Friends of Lesbian and Gay, uma organização americana composta por pais, famílias e amigos de gays, lésbicas e bissexuais, é preciso haver diálogo constante e a disposição dos pais em aprender a lidar com este fato junto com os filhos.


Uma boa dica para apoiar o filho é aprender o máximo possível sobre a homossexualidade e tentar se colocar no papel dele, para que aconteçam sempre conversas honestas, além de entendimento e percepção do filho de que os pais estão do seu lado.


Existem casos em que pode ser útil consultar terapeutas com experiência com questões familiares e orientação sexual, para quem os pais podem se abrir sobre os próprios sentimentos e assim aprender a trabalhá-los.


Aconteceu comigo

Meu maior pavor era ter a rejeição dos meus pais

Junior*, 23 anos, jornalista

Junior*, 23, jornalista paulistano, relata que até ficou surpreso com a reação de seu pai quando contou sua orientação sexual: “Eu tinha 20 anos, e meu pai sempre foi muito rígido. No momento que falei, ele chorou. Disse que não era o sonho da vida dele e que tinha medo que eu sofresse, mas me deu um abraço, disse que me amava e que estaria sempre do meu lado. Quando eu ouvi aquilo, senti uma sensação de alívio muito grande. Meu maior pavor era ter a rejeição dos meus pais”.

 


A mesma compreensão faltou ao webdesigner Paulo*, de 30 anos, quando contou a verdade aos pais: “Meu pai falou que preferia que eu estivesse morto. Eu tinha 27 anos na época e era independente financeiramente. Em menos de uma semana tive que sair de casa porque a situação se tornou insustentável para todos nós”.

 

Vença as barreiras
É comum, quando descobrem a sexualidade dos filhos, os pais se perguntarem: “Onde nós erramos?”. Essa culpa, entretanto, é um grande erro na concepção de Claudio Picazio, psicólogo especializado em sexologia e autor do livro “Diferentes Desejos: Adolescentes Homo, Bi e Heterossexuais” (GLS Edições).

Não são os pais que escolhem a sexualidade dos filhos. Não se trata de uma opção sexual, como dizem

Claudio Picazio, psicólogo especializado em sexologia


“Não são os pais que escolhem a sexualidade dos filhos. Não se trata de uma opção sexual, como dizem. Se a pessoa gosta de quindim e de brigadeiro, e só pode comer um, então faz uma opção. Se as alternativas são lasanha e dobradinha, para alguém que odeia dobradinha, por exemplo, não há opção, pois a pessoa só gosta de um dos pratos”, compara.


Especular se os filhos que são criados pela avó, mimados pela mãe ou sofrem com pai ausente teriam mais tendência à homossexualidade também é um erro. Isso porque o que costuma acontecer quando os pais descobrem que o filho é gay é o pai se afastar – por não se identificar – e a mãe, para tentar compensar, superproteger o filho. Daí vem este mito.

 

* Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados


 

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