Construção e reforma

Telhados com gramado e jardins em paredes: como são construídos?

Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz

Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz

Nos últimos anos, o teto jardim ou teto verde entrou muito em voga com a disseminação da cultura da sustentabilidade. O problema é que, como pudemos ver no texto da semana passada, é necessária uma série de cuidados para realizar um verdadeiro jardim que você possa utilizar na cobertura de sua casa.

Por isso, algumas pessoas pararam para pensar: como poderíamos criar um teto verde, sem que necessariamente tivéssemos uma laje impermeabilizada? Qual seria a forma mais prática de ter um teto verde na cobertura? O que seria necessário para poder criar coberturas vegetais sobre construções de uma forma mais simples, ainda que não se possa frenquentá-la?

Com base nesses questionamentos, algumas empresas encontraram soluções muito interessantes e as lançaram recentemente no mercado brasileiro, com sucesso. Seus produtos são diferentes entre si, mas têm em comum o resultado final: a implantação de tetos verdes com relativa facilidade.

Para o uso dessa tecnologia, basta ter uma cobertura que suporte 50 kg por m², peso médio dos sistemas dessas empresas. A composição tecnológica do sistema varia de empresa a empresa, mas basicamente são uma série de camadas sobrepostas, formadas por:

• impermeabilizante, em geral do tipo anti-raízes, aplicada junto à laje de cobertura;
• camada de retenção e orientação de água;
• camada de retenção de nutrientes (deixa passar a água, mas impede que ela “lave o solo”, mantendo o alimento para as plantas crescerem saudáveis);
• o substrato (terra especial leve adubada) coeso (varia de empresa a empresa, e alguns são modulares e outros de enrolar);
• camada final do composto do substrato e, finalmente, a vegetação rasteira, que pode ser grama ou outras espécies de forração.

  • FolhaImagem

    Imagem aérea do Centro de São Paulo. A impermeabilização do solo é praticamente total, o que causa enchentes e ilhas de calor (Imagem: Google Earth)

É possível utilizar esse tipo de solução sobre lajes e até sobre telhas metálicas, em que se sobe apenas para eventual manutenção.

Mas qual a utilidade de se ter um teto verde se não posso utilizá-lo?

São diversas as vantagens de um teto verde, ainda que não se possa subir nele para tomar sol ou jogar bola. Com o teto jardim você consegue melhorar a inércia térmica da sua construção, ou seja, ela não esquenta, nem esfria demasiadamente; melhora a acústica, ajuda na drenagem, contribui para a melhora da qualidade urbana como um todo e quem vê sua construção de cima agradece!

Imagine-se chegando de avião em uma cidade grande como São Paulo e, no lugar desse visual cinza desolador que as metrópoles oferecem quando vistas do alto, houvesse uma infinidade de tetos verdes? Seria quase como “erguer” o solo onde se fez a construção. Como as cidades seriam incríveis se fossem assim!

Paredes Verdes

Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento do teto verde ocorreu, surgiram as “paredes verdes”, os ensaios mais contemporâneos dos conhecidos jardins verticais.

A idéia já é antiga e, desde os anos 70, já existem peças de concreto para construção de muros, por exemplo, que se tornam como que pequenos vasos de plantas. O resultado do agrupamento dessas peças compõe uma espécie de paisagismo vertical.

Um dos usos que chamou muito a atenção do mundo da arquitetura foi a parede verde proposta pelos arquitetos suíços Herzog & De Meuron (autores do estádio ninho de pássaro em Pequim e da galeria Tate Modern, em Londres) para a praça de entrada de seu museu Caja Forum, em Madri.

O restaurante KAÁ, em São Paulo, de autoria de Artur de Matos Casas e paisagismo de Gica Mesiara, possui uma grande parede que é um jardim vertical e é o ponto focal do projeto. O resultado valeu diversos prêmios à dupla.

  • Arte UOL

    Esquema de construção do tipo convencional de telhado verde.
    Já existem outras opções, mais simples, no mercado atualmente

Imagine aquelas grandes empenas cegas, comuns em prédios antigos, que em muitos locais são infestadas por outdoors gigantescos. Como elas pareceriam com grandes jardins verticais iluminados à noite?

A verdade é que boa parte das cidades sofre com a falta de verde. Por serem muito impermeabilizadas e cheias de concreto, tendem a se tornar “ilhas de calor” e são alguns graus mais quentes do que o campo. As chuvas que caem nas cidades têm de ser escoadas, pois há baixa permeabilidade do solo – quanto mais verde, melhor nesse aspecto. A fauna sofre - dos passarinhos aos insetos.

A solução de jardins em coberturas e paredes agrada a todos, promove a sustentabilidade, ajuda o clima, é boa para a fauna e tende a deixar os locais mais bonitos e agradáveis.

Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz

Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz são arquitetos formados pela FAU-USP e sócios do escritório Forte Gimenes Marcondes Ferraz (www.fgmf.com.br)

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