Qual é o método mais rápido e prático para construir minha casa?
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Cynthia Yendo / Divulgação
A casa Gerassi (1989-1991), obra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em São Paulo, foi construída com elementos pré-fabricados de concreto
Provavelmente, a resposta para sua pergunta nos elementos pré-moldados de concreto. Não se trata de nenhuma novidade, embora no Brasil seu uso para obras residenciais só tenha aumentado nos últimos anos.
A utilização em larga escala desta tecnologia data do início do século 20, do período entre guerras: com a destruição de muitas construções durante a primeira grande guerra, os construtores da época se viram diante do desafio de reconstruir cidades inteiras em velocidade recorde, e a tecnologia do concreto armado que começava a se desenvolver foi de grande valia nesta empreitada. Como a quantidade de construções deveria ser muito grande, desenvolveu-se uma série de técnicas de pré-fabricação para acelerar as obras e os elementos pré-moldados de concreto foram parte de todo esse progresso.
O que são os pré-moldados de concreto?
Os elementos pré-moldados de concreto são qualquer elemento usado para compor uma construção, feito desse material e produzido fora do local onde será utilizado. Os pré-moldados não se limitam a pilares e vigas, tão comuns em obras industriais e de supermercados. Há diversos outros componentes construtivos que podem ser pré-moldados, como painéis de vedação, lajes, bancos de concreto, lajotas de piso, banheiros e cozinhas, entre outros elementos especiais. Nesse artigo, entretanto, vamos nos ater às estruturas pré-moldadas.
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Vista da área de lazer com piscina da casa Gerassi, do arquiteto Paulo Mendes da Rocha
As estruturas convencionais de concreto são as chamadas moldadas in loco, ou seja, são produzidas no exato ponto onde vão exercer sua função como parede, laje ou pilar, entre outras tantas. Ao passar por uma obra, observe as fôrmas de madeira onde o concreto é despejado e permanece até endurecer: esse é o processo construtivo convencional. Contudo, a montagem das fôrmas toma muito tempo e exige mão de obra relativamente especializada; gasta muita madeira e o desperdício de material costuma ser grande. Em consequência, a construção é lenta, o controle de qualidade de execução é difícil e o meio ambiente sofre.
As estruturas pré-moldadas são produzidas em indústrias que contam com equipamentos modernos e mão de obra especializada, o que garante um controle de qualidade muito maior. Em geral essas empresas usam fôrmas metálicas para o concreto, o que reduz o desperdício de material (visto que podem ser reutilizadas inúmeras vezes) e melhora o acabamento e o controle dimensional das peças, diminuindo a necessidade de acabamento posterior.
Produção industrial
Por serem produzidas fora do canteiro de obras, as peças podem ser feitas numa velocidade muito maior, o que acelera muito a construção. Ao invés de um tempo enorme construindo formas de modo artesanal, a construção passa a ser uma sequência lógica e planejada de montagem, que é feita normalmente com a utilização de maquinário.
As peças que normalmente formam a estrutura pré-moldada de um edifício são os pilares, as vigas e as lajes de concreto. Os pilares normalmente apresentam os consolos, extensões das peças utilizadas para fazer a união com as vigas. As vigas são normalmente apoiadas nos pilares ou em outras vigas e as lajes podem ser de diversos tipos, como as alveolares (de fabricação e montagem mais complexas) ou como os painéis treliçados comuns, utilizados em qualquer tipo de obra e que demandam uma capa de concreto moldado in loco após a montagem.
Apesar de normalmente serem feitos em indústrias especializadas, os elementos pré-moldados podem ser produzidos na própria obra. Nesse caso são chamados de pré-moldados in loco. Uma eventual redução de custo pode justificar a adoção desta tecnologia. Ainda assim, o sistema de montagem é semelhante e as vantagens de utilização do pré-moldado permanecem.
Menos desperdício, mesmas possibilidades
Por terem sido muito utilizados no passado para a construção de enormes conjuntos de edifícios repetitivos e no presente para a construção de edifícios sem expressividade, como centros de distribuição, supermercados e galpões fabris, esse sistema estrutural traz à memória imagens de obras tediosas e sem qualidade formal. Mas a tecnologia permite hoje aliar as vantagens dos pré-moldados com construções de grande apelo estético.
A Casa Gerassi, de Paulo Mendes da Rocha (premiado com o Pritzker, em 2006, um dos mais importantes prêmios da arquitetura internacional) ou a série de belas escolas da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) são alguns exemplos de como as estruturas pré-moldadas podem produzir belos edifícios. Esse fato se deve a um investimento grande dos fabricantes em tornar os sistemas mais flexíveis, admitindo peças especiais, por exemplo.
Pré-moldado + sistemas comuns
Outra questão importante é a possibilidade da utilização se sistemas híbridos. Muitos prédios de escritório apresentam lajes pré-moldadas alveolares, que permitem grandes vãos livres, e fechamentos convencionais. O fato é que hoje as construções pré-moldadas se mesclam às outras mais tradicionais na cidade e passam despercebidas muitas vezes.
Quanto maior a repetição das peças, mais interessante economicamente se torna a adoção dos pré-moldados. Num período como o que vivemos, de escassez de mão de obra, as peças pré-moldadas são uma bela alternativa para uma construção de qualidade, veloz e de baixo custo.
Porém é importante ter em mente que qualquer construção pré-fabricada exige um planejamento muito maior. Como as peças chegam prontas e são apenas montadas na obra, as famosas improvisações de canteiro não podem existir. Tudo tem de ser previsto antes para garantir o perfeito encaixe entre as peças. Invista na contratação de um bom projetista e ele saberá tirar partido desta tecnologia. Ao final você terá uma estrutura bonita e bem executada, que será montada rapidamente e sem desperdícios, ajudando ainda o meio ambiente.
Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz
Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz são arquitetos formados pela FAU-USP e sócios do escritório Forte Gimenes Marcondes Ferraz (www.fgmf.com.br)