Quantas camadas de reboco devem ser aplicadas nas paredes?
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Mal aplicadas ou elaboradas com a fórmula errada, as camadas de revestimento que cobrem a alvenaria antes do acabamento final podem causar fissuras e até se soltar em placas
São três, chamdas chapisco, emboço e reboco, e formam um conjunto de revestimentos de superfícies conhecidos na arquitetura e engenharia como "revestimentos verticais". São aplicados nas paredes de sua casa e até em fachadas de edifícios.
Os revestimentos verticais são os materiais que revestem as alvenarias (as paredes) e que antecedem a pintura ou outros revestimentos, como os azulejos, por exemplo. Independente de a parede ser construída com tijolinho, tijolo cerâmico vazado, bloco de concreto e outros, geralmente ela recebe essas três camadas de tratamento que dão a aparência final usualmente encontrada nas construções.
As argamassas que constituem esses revestimentos têm suas fórmulas pré-definidas, de forma similar a uma receita de culinária. Essas receitas são conhecidas como "traço" e trazem a proporção entre a areia, cimento, cal e algum outro material que compõem os produtos.
Embora simples, os traços são muito importantes em uma obra, pois se não são realizados corretamente, os acabamentos (pintura, cerâmica, pedras, etc.) podem mais tarde apresentar fissuras ou até se descolar das paredes. Para verificar quais os traços corretos dos revestimentos, assim como espessuras adequadas de cada camada, cheque a norma brasileira que rege os revestimentos verticais, chamada NBR 7200.
Para entendermos melhor o que são essas camadas, vamos dividi-las conforme a ordem de aplicação em uma parede.
Chapisco
Uma vez construída a parede, de preferência a mais alinhada e aprumada possível, o pedreiro passa a executar uma camada sobre ela conhecida como "chapisco". Essa camada tem a função de fazer a ancoragem dos revestimentos na parede. Isso quer dizer que ela é aplicada de forma a garantir que as outras camadas não se descolem da parede mais tarde e caiam em placas, como é comum vermos em edificações antigas.
O chapisco deve ser executado com cimento e areia média ou grossa, e a superfície de aplicação tem que estar umedecida de antemão. Para aplicá-lo, o operário deve usar a colher de pedreiro e arremessar a massa com golpes rápidos e precisos, cobrindo uniformemente a superfície em uma só camada. O resultado final deve ser bastante áspero para ancorar o próximo revestimento. O chapisco deve ter cerca de 5 mm de espessura, embora seja comum encontrá-lo mais grosso, o que está em desacordo com as normas.
Emboço
Uma vez realizado o chapisco, deve-se aguardar 24 horas para a cura do cimento para então começar a aplicação da nova camada, o emboço. O emboço também é conhecido como "massa grossa" em muitas regiões do país.
O emboço é constituído por uma mistura de elementos similares ao chapisco, mas com proporções diferentes e a adição de cal (ou, mais raramente, outros tipos de aditivos). De aparência mais pastosa do que o chapisco, ele é geralmente aplicado sobre este com desempenadeira de madeira. A aparência final já é bem mais lisa.
Reboco
A última camada, o reboco, é também conhecida em certos locais do Brasil como "massa fina". Essa camada é a que antecede a pintura, que pode receber massa corrida ou não (a aplicação da massa corrida faz parte do trabalho do pintor). Mais uma vez, a fórmula do reboco muda ligeiramente em relação à das outras camadas, e também é regida pela NBR 7200.
O reboco deve ser executado com especial atenção nos requadramentos de cantos, quinas e vigas, pois não dá para corrigir defeitos de alinhamento com a massa corrida e você terá de conviver com um mau acabamento.
Desperdício de material e custo
Infelizmente é bastante comum encontrarmos construções em que uma execução inadequada das estruturas ou paredes (pouco alinhamento e erro de prumo) acaba sendo corrigida pelo uso excessivo das argamassas de revestimento.
O encarregado pensa "tudo bem ficar torto, eu vou ter de rebocar tudo mesmo, e tanto faz se o revestimento vai ficar com dois ou 12 centímetros!" Isso não é verdade e você não deve admitir esse tipo de comportamento em sua obra. O gasto de material é muito maior e o custo também; é uma prática insustentável e totalmente contra as normas. Ou seja, muito provavelmente vão aparecer fissuras em sua obra mais tarde. Fique de olho!
Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz
Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz são arquitetos formados pela FAU-USP e sócios do escritório Forte Gimenes Marcondes Ferraz (www.fgmf.com.br)