Gestação

Eu não sinto saudade da gravidez

Mamatraca

Mamatraca

Do UOL, em São Paulo
  • Paola Saliby/UOL

    Quando eu vejo uma mulher grávida, sinto um pouco de preguiça (por mim, não por ela, deixo claro)

    Quando eu vejo uma mulher grávida, sinto um pouco de preguiça (por mim, não por ela, deixo claro)

Algumas amigas minhas suspiram só de ver uma grávida passando na rua. A cena traz a elas certa nostalgia e uma saudade enorme da barriga, de quando o bebê estava ali quentinho e protegido. Pois bem, vou fazer uma confissão: eu não tenho nenhuma saudade da gravidez.

Sim, tive duas gestações planejadas, desejadas e felizmente muito bem-sucedidas. Está certo que vomitei horrores no início, nas duas vezes, mas depois tudo correu muito bem. Trabalhei até o final do oitavo mês de gravidez, fiz minha ginástica, viajei, mantive vida normal. Em tese, foi tudo perfeito.

Nunca esqueço que, quando eu estava tentando engravidar, uma vizinha dizia que a gestação era uma fase muito chata e eu admito que achava um tanto insensível da parte dela esse tipo de comentário. "Mas como alguém pode não ter saudade da gravidez, uma fase tão linda e especial na vida de uma mulher?", pensava eu com meus botões.

Pois é, minha gente, eu também não tenho saudade. Pronto, falei. Quando eu vejo uma mulher grávida, sinto um pouco de preguiça (por mim, não por ela, deixo claro). Isso não significa que eu não tenha curtido estar grávida, especialmente da primeira vez. Foram muitas e fortes emoções, uma experiência única. A gravidez te transforma um pouco no centro do universo, como se estivesse acima do bem e do mal. Dessa atenção eu gostava, claro. Também curtia demais os chutes que elas me davam na barriga, me emocionava ao vê-las no ultrassom. Mas já passou, vivi intensamente e acabou.

No fundo, olhando para trás, acho a gravidez uma fase difícil para a mulher: muitos hormônios aflorados, muitas alterações de humor, enjoos, restrições físicas, desconforto, gases, tensão. Fora que algumas precisam ficar de repouso, têm gestações delicadas ou de risco, o que torna tudo ainda mais complicado. Se a gente pudesse ficar grávida só dos quatro aos sete meses, que é o período mais gostoso, acho que seria bem mais agradável.

Eu sou uma pessoa que gosta de ter o controle das situações, detesto surpresas, e a ansiedade na gravidez é algo que me tira desse eixo. A angústia antes de cada ultrassom para saber se está tudo bem com o bebê, o medo de não ter o parto que eu gostaria de ter, o mundo novo que surgiria pela frente e eu não sabia como iria enfrentar. E meu casamento, como ficaria depois dos filhos? Tantas mudanças de uma só vez!

Agora, sabe do que eu sinto saudade? Do parto. Tive dois partos normais e me lembro nitidamente das sensações e emoções que tive ao parir minhas duas filhas e ao tê-las mamando sem parar na primeira hora de vida. Sinto muita saudade das primeiras semanas com as meninas em casa.

Alguns podem pensar que eu sou completamente louca, porque para algumas famílias esse período é a lembrança de um terremoto avassalador. Mas é verdade, eu sou louca por um recém-nascido. Apesar das dificuldades naturais desse período, foram semanas divertidas. Ri muito com os cocôs voadores, com as madrugadas acordada batendo papo com o meu marido e com a minha mãe. Eu me derreto ao lembrar da curtição de ver um bebezinho tão delicado mamando no meu peito, aquele cheirinho, aquela fragilidade, aquele amor sendo descoberto.

Eu acho infinitamente mais gostoso estar com a cria nos braços, no peito, na minha frente, do que dentro da barriga. Dessas fases, sim, eu acho que vou sempre sentir falta.

Roberta Lippi

Roberta Lippi, jornalista, é mãe da Luísa (6 anos) e da Rafaela (3 anos). É uma das blogueiras mais antigas na área de maternidade e está sempre antenada nas discussões sobre educação e comportamento. Vive uma mistura de fases em casa, e rebola para conseguir não deixar cair nenhum pratinho. Sente que se tornou uma mãe muito melhor por causa da internet, lugar onde encontrou a informação de qualidade e a verdade que não achou nos livros e nos consultórios de pediatra. Prefere a linha do "equilíbrio", ou do "meio termo" na maioria das vezes, mas também sabe rodar a baiana quando acha que deve. www.mamatraca.com.br

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