Bebês

Maternidade alternativa não é moda

Mamatraca

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  • Paola Saliby/UOL

    Em tempos de tecnocratização da vida, é preciso que a gente recorra às essências

    Em tempos de tecnocratização da vida, é preciso que a gente recorra às essências

Quando uma prática dita alternativa entra em pauta por alguma razão, é comum a gente escutar que se trata de modismo. O uso de carregadores de pano ou partos sem analgesia, a shantala para bebês ou a amamentação ao seio. "A moda é parir na água", ouvi alguém dizer. Ou "você só usa esse carregador porque é moda", uma conhecida me disse.

É fato que vivemos um tempo no qual muitos hábitos do passado vêm sendo revisitados, como uma tentativa de encontrarmos alguns elos perdidos. Mas quando foi que aninhar um bebê no colo virou sugestão de patologia? Por que agora temos datas definidas para que venham ao mundo, comecem e parem de mamar e "aprendam" a dormir sozinhos?

Quem sabe o retorno do olhar para essas práticas seja uma forma de buscar equilíbrio entre o que a tecnologia e os avanços do conhecimento podem nos oferecer e os indiscutíveis benefícios da disponibilidade do amor, dos abraços e do esforço?

Pode até ser que quando parto natural, carregadores de pano, shantala e livre demanda (o bebê mama quando quer) começaram a se espalhar por outros círculos e ganharam o mundo das celebridades, as páginas das revistas e os assuntos nas rodas de conversa, algum ponto de vista pode interpretá-las como moda, ou seja, febre passageira, coisa de gente "alternativa".

Mas precisamos rever nosso conceito de alternativo!!! Por que o natural virou alternativo, e o alternativo virou regra? Veja bem: uma peridural não seria uma alternativa à dor do parto? 

Chupetas e remédios não seriam alternativas aos recursos normais de acalmar bebês em crise? E por normais entendam por mais próximos daquilo que o ser humano pode fazer sozinho. Ou seja, massagear um bebê no meio de uma crise de choro é uma prática alternativa? Quando foi que esse conceito se perdeu?

Entre idas e vindas nos dilemas da maternidade, garanto que não há nada de moda em usar as mãos para acariciar bebês, o que tem sido feito desde que o mundo é mundo. Shantala não é moda. Nem parir, isso não é moda.

Convenhamos, humanos nascem via parto vaginal desde o sexto dia do Gênesis. Ora, não há nada de moda em dar banho na criança dentro de um balde. Provavelmente, as crianças eram banhadas com os pais nos rios e lagos da vida, e tenho certo que os baldes surgiram antes do que as banheiras de bebê, equipadas com mil acessórios.

Sobre carregar bebês no colo, massageá-los como forma de vínculo, amamentar sem horários estabelecidos, parir ao momento do parto, com os recursos do corpo, as culturas ancestrais não me deixam mentir: essas práticas taxadas como "coisa de hippie" no Ocidente cosmopolita nunca saíram da moda.

Na Índia, a Shantala, mais do que massagem, é uma forma de comunicação entre mães e filhos, na qual nasce o vínculo que se estende pela vida inteira. Ninguém não massageia seus filhos, e a prática de se tocar com finalidades espirituais e terapêuticas é estendida por toda a vida. Não preciso nem dizer que nas comunidades orientais, como no Japão, Coréia e China, carregar bebê no colo é tão óbvio quanto parece. O mesmo ocorre na África, onde recentemente uma investida da indústria de carrinhos faliu, exatamente porque as mães africanas não compreendem a razão de não se carregar um bebê no colo, com a mãe gozando de boa saúde.

Não preciso nem ir muito longe: os alarmantes níveis de cesárea do Brasil são contestados por todos os países –do Oriente ou do Ocidente– que, mesmo altamente tecnológicos, mantêm seus níveis dentro da recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) com partos dessa modalidade respondendo a, no máximo, 15% do total de nascimentos. Nem na Europa parto é moda. Parir é normal, como é normal nascer, comer e respirar.

Em tempos de tecnocratização da vida, é preciso que a gente recorra às essências. Pensar no fundamental. No dia em que beijar, abraçar, aquecer as mãos como forma de transmitir amor ou aliviar a dor forem moda, estaremos de fato vivendo o fim de nossa condição humana.

E, se quiser saber um pouco mais sobre a shantala e o poder que cada mãe carrega em suas mãos, visite o Mamatraca (www.mamatraca.com.br), que traz mais informações sobre os benefícios dessa massagem para mães no pós-parto e bebês de qualquer idade.

 

Anne Rammi

Anne Rammi, artista plástica e mãe do Joaquim (3 anos) e do Tomás (1 ano). Experimentou com a chegada dos meninos a oportunidade de quebrar muitos paradigmas da maternidade contemporânea e relata suas experiências com fidelidade e uma peculiar (e muitas vezes polêmica) ironia. Escreve muito, fala muito, produz incessantemente, em especial sobre os temas do universo da maternidade crítica e consciente, como o parto humanizado, amamentação prolongada, criação por apego e em defesa de uma infância livre de consumismo, sendo personagem importante nos grupos ativistas da internet materna. Recentemente virou vegetariana e vive o dia a dia tentando adequar as ideologias às práticas, rumo a uma vida com foco na família, na sustentabilidade e na educação fora da escola. www.mamatraca.com.br

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