Onde seu filho vai estudar?
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Paola Saliby/UOL
Quem disse que a escolha da escola precisa ser para sempre?
– Você já decidiu em que escola vai colocar o seu filho?
Basta um grupo de mães e pais de crianças pequenas se juntar que essa pergunta, invariavelmente, surge. A escolha da escola é talvez uma das decisões mais importantes e angustiantes com a qual temos de lidar na primeira infância dos nossos filhos. E é, justamente, nesta época do ano que o assunto está ainda mais em voga: chegou a fatídica hora da matrícula.
O que levar em conta na hora de escolher a escola, muitas reportagens por aí indicam: é preciso analisar fatores como modelo de ensino, preço, distância da sua casa, cultura, experiência dos professores, tamanho da instituição etc. Sempre levando em conta que cada família tem um perfil, e cada criança tem sua personalidade e suas necessidades.
Aqueles que estão mais preocupados com o mercado de trabalho do que com a vida ainda sugerem que se olhe atentamente a colocação da escola no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e a dificuldade de entrada naquela instituição no futuro –se for muito difícil de entrar lá na frente, sugerem matricular a criança nesse disputado colégio desde bem pequena, quando o número de vagas é maior.
Sim, muitas famílias escolhem a escola de crianças de dois ou três anos com base no preparo que elas podem ter para o vestibular e o mercado de trabalho. Não importa se a escola é grande demais, tradicional demais, puxada demais, longe demais: o importante é que ela tem uma das melhores colocações no Enem. "A criança tem de se preparar para o mundo como ele é, competitivo", dizem eles.
Sobre nossos ombros de pais incide o peso de uma escolha que vai influenciar o futuro dessas crianças. Uma decisão que vai ser a responsável por um grupo de amizades que ajudarão a formar a personalidade delas. A sociedade nos cobra, nós nos cobramos mais ainda.
Agora me pergunto: será mesmo que essa decisão precisa ser para sempre? Será mesmo que temos de escolher a escola de uma criança pensando no mercado de trabalho? Será mesmo?
Visitamos várias escolas antes de tomar a decisão de onde nossa filha mais velha vai começar a cursar o primeiro ano do ensino fundamental. Levamos em conta todos os fatores mencionados aí em cima: modelo de ensino, distância, cultura etc. Mas, no fundo, o fator que mais pesou na nossa decisão foram os valores.
Não queremos criar robôs nem crianças consumistas nem crianças estressadas por excesso de informação ou de pressão. Não queremos que nossas filhas convivam em um ambiente irreal de famílias que valorizam mais o ter do que o ser. Queremos que sejam crianças felizes. Muito estimuladas e recebendo o conteúdo necessário, obviamente, aprendendo a pensar, argumentar, questionar. Mas, acima de tudo, que respeitem o próximo e entendam que elas têm tudo o que têm porque seus pais ralam muito pra isso. Queremos uma escola que acolha as famílias, e professores e diretores que olhem no olho. E que tenham brilho nesses olhos.
Se estamos 100% seguros da nossa escolha? Não, não estamos, porque sempre existirá aquele peso do quanto essa decisão influenciará no futuro das meninas. Só vivenciando para saber, depois volto pra contar.
Procuro pensar muito no que a diretora da atual escola delas me disse uma vez: quem disse que tem de ser para sempre? No fundo, ela me disse o que eu queria ouvir: siga o seu coração. E se lá na frente achar que faz sentido promover uma mudança, isso pode até ser bom. A criança vai aprender a lidar com a situação e isso pode ajudá-la a se tornar um adulto com mais capacidade de adaptação a novos ambientes.
Roberta Lippi
Roberta Lippi, jornalista, é mãe da Luísa (6 anos) e da Rafaela (3 anos). É uma das blogueiras mais antigas na área de maternidade e está sempre antenada nas discussões sobre educação e comportamento. Vive uma mistura de fases em casa, e rebola para conseguir não deixar cair nenhum pratinho. Sente que se tornou uma mãe muito melhor por causa da internet, lugar onde encontrou a informação de qualidade e a verdade que não achou nos livros e nos consultórios de pediatra. Prefere a linha do "equilíbrio", ou do "meio termo" na maioria das vezes, mas também sabe rodar a baiana quando acha que deve. www.mamatraca.com.br