Bebês

Quatro mantras fundamentais para quem quer amamentar

Mamatraca

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  • Paola Saliby/UOL

    Todas as mulheres são fisiologicamente capazes de aleitar seus bebês, salvo raríssimas exceções

    Todas as mulheres são fisiologicamente capazes de aleitar seus bebês, salvo raríssimas exceções

Devido ao enorme sucesso da última coluna e e-mails que recebi pedindo dicas para uma boa experiência com amamentação, preparei uma série de textos, a série "Amamentação para Quem Tem Peito", com as melhores informações sobre o tema, compiladas sob o ponto de vista de uma pessoa (euzinha) que acredita que o ato de amamentar é mais do que uma boa opção de saúde e sim um projeto de amor. E que vale a pena trabalhar nele.

Como mamíferos, temos por regra que as fêmeas de nossa espécie alimentam os filhotes por meio da máquina perfeita que é o corpo humano: o seio produz leite e o bebê já nasce com o reflexo de sugar.

"Maaas" sabemos que na prática não é sempre assim.

O Brasil possui uma das taxas mais baixas de aleitamento exclusivo do mundo. Enquanto a OMS (Organização Mundial de Saúde) preconiza os seis meses do bebê como marco para introdução de outros alimentos e bebidas, acumulamos parcos 54 dias dessa prática, de acordo com pesquisas recentes.

Se a grande maioria das mães está disposta e quer amamentar seus bebês, por que os números mostram o contrário?

Separei para esquentar os motores alguns mantras da mãe "amamentadeira", baseados na minha vivência pessoal, observação próxima de casos de amigas e muita troca de conhecimento em grupos presenciais e virtuais de apoio à amamentação. Vale imprimir essa listinha e colocar na geladeira antes de o bebê nascer ou enviar para uma amiga querida que esteja enfrentando desafios.

1) Amamentar é uma escolha

E quem faz essa escolha é a mãe. É importante ter em mente que todas as mulheres são fisiologicamente capazes de aleitar seus bebês, salvo raríssimas exceções. A falta de sucesso no processo de amamentação não está relacionada com incapacidades da mulher ou do bebê e sim com todo um contexto cultural e histórico.

Recentemente, a Save the Children, a mais importante organização independente para defesa dos direitos da criança no mundo, publicou em relatório que as quatro causas mais impactantes para os problemas que levam ao desmame precoce são: pressões culturais e sociais, falta de legislação que apoie o aleitamento nas maternidades, escassez de profissionais de saúde especializados no tema e o marketing desregrado das grandes corporações fabricantes de substitutos do leite.

Portanto, se a escolha da mulher é amamentar, ela deve ter clareza que precisará tomar atitudes adequadas a essa escolha, o que nos leva ao segundo mantra:

2) Amamentar é agir com coerência

Tendo entendido que seu corpo é plenamente capaz de nutrir seu filho, é hora de fazer boas escolhas. É na distância entre o desejo e a ação que mora a frustração. Uma mãe que tem a amamentação como prioridade terá de adotar práticas que priorizem a amamentação e não aquelas que a ameaçam. E por práticas que priorizem a amamentação entendam: tudo aquilo que não oferece risco ao processo e que favorece a criação do vínculo entre mãe e bebê, o suporte emocional e afetivo da mãe, a criação de uma nova vida para a família com o recém-chegado bebê. Sobre esses empecilhos para a amamentação e atitudes que a favorecem falaremos no próximo texto dessa série.

3) Amamentar é se cercar de ajuda

As interferências externas, culturais e sociais são indiscutivelmente razões que levam ao desmame. Médicos, maridos, vizinhas, sogras, amigas e rivais: nenhuma dessas pessoas está preparada para fabricar leite e vem equipada com o mecanismo perfeito para colocá-lo dentro do bebê e, portanto, devem ter suas opiniões, julgamentos e comentários cuidadosamente avaliados e colocados em seus devidos lugares no processo. É fundamental, dentro da teoria da coerência, que a mulher que queira amamentar esteja apoiada por pessoas, instituições e grupos que compartilham dos mesmos ideais que ela. 

4) Amamentar é se responsabilizar

Ainda que o apoio seja fundamental é preciso ter clareza de que o ônus, o trabalho, o esforço, a entrega, a dedicação e toda a responsabilidade do processo são da mãe. Nenhum serviço especializado ou marido superparticipativo resolve problemas de amamentação, caso não haja comprometimento e responsabilidade integral da dona dos peitos. Parece muito injusto falar assim, mas a natureza nos recompensa, com um olhar fabricado pelos filhos, dado exclusivamente às mães, entre um suspiro e outro de amor e prazer, enquanto ela –e só ela– lhe oferece a dádiva da vida por meio do leite.

Anne Rammi

Anne Rammi, artista plástica e mãe do Joaquim (3 anos) e do Tomás (1 ano). Experimentou com a chegada dos meninos a oportunidade de quebrar muitos paradigmas da maternidade contemporânea e relata suas experiências com fidelidade e uma peculiar (e muitas vezes polêmica) ironia. Escreve muito, fala muito, produz incessantemente, em especial sobre os temas do universo da maternidade crítica e consciente, como o parto humanizado, amamentação prolongada, criação por apego e em defesa de uma infância livre de consumismo, sendo personagem importante nos grupos ativistas da internet materna. Recentemente virou vegetariana e vive o dia a dia tentando adequar as ideologias às práticas, rumo a uma vida com foco na família, na sustentabilidade e na educação fora da escola. www.mamatraca.com.br

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