Gestação

Passeio em família

Mamatraca

Mamatraca

  • Paola Saliby/UOL

    Passear com um bebê envolve um número infindável de artigos supostamente para garantir seu bem-estar

    Passear com um bebê envolve um número infindável de artigos supostamente para garantir seu bem-estar

– Benzinho, o Junior fez cocô. Pega a mala de fraldas para mim?

– Está no carro?

– Não, pendurei no carrinho.

– Peraí, que enroscou nesse treco de segurar mamadeira.

– Vai abrindo. Põe a mamadeira de água na bolsa.

– E a de suco?

– Deixa no carrinho.

– Precisa de pomada?

– Acho que sim. Xiiii, molhou o body! Me dá o trocador?

– O que veio com a bolsa ou o do kit troca de fralda?

– O do kit. A pomada está na bolsinha de zíper.

– De zíper? Não está com o kit de primeiros socorros?

– Está, com a pomada para picada de insetos.

– Ah, então está na bolsinha de velcro.

– Esses lencinhos umedecidos não são tão bons como usar algodão, né?

– Detesto algodão, só uso porque você me obriga.

– Ah, bem melhor usar a água morninha da garrafa térmica.

– Acho que você só diz isso para justificar a compra daquele kit trocador.

– Não, eu gosto do kit, mas algodão é melhor mesmo.

– Sim, mas nunca abrimos aquele pote de cotonetes.

– Verdade. E ainda tem oito caixas de cotonete fechadas.

– Oito caixas? Onde?

– Na gaveta da cômoda!

– A da cômoda-trocador ou aquela que veio com o armário?

– A do berço.

– Achei a pomada.

– Pega a sacolinha impermeável para eu colocar o body molhado?

– Está nessa mala?

– Ué. Deve estar. Eu esvaziei ontem e você guardou.

– Ah, mas eu guardei na mala de roupas, e não na de fraldas!

– E a mala de roupas está onde?

– Ficou no carro, com a sacola de brinquedos de areia.

– Você não trouxe os brinquedos de areia?

– Não. Achei que o tanque ia estar molhado.

– Mas eu trouxe o tapete de brincadeiras, ele segura a umidade.

– Trouxe onde? Não vi.

– Tá ali, naquela sacola acoplada ao carrinho. Ao lado da sombrinha.

– Olha, só a gente mesmo para sair com sombrinha e capa de chuva para carrinho, né?

– Pois é. Mas o tempo dessa cidade anda maluco. Não é à toa que o Junior está com essa tosse.

– Por falar nisso, você trouxe o spray de nariz?

– Sim, coloquei na bolsinha de zíper.

– Na de zíper ou na de velcro?

– De zíper mesmo, com os mordedores.

– Posso guardar o trocador?

– Pode. Guarda no bolso certo da mala, não junto das fraldas. Junto dos lenços.

– Tá cheio de cueiro aqui.

– Não são cueiros, são fraldas de pano.

– Mesma coisa.

– Não é, cueiro é bem maior.

– Mas serve para a mesma coisa.

– Não serve, mas nem precisamos discutir isso, porque você acha que bico ortodôntico e bico universal de chupeta são a mesma coisa.

– Chupeta é ruim de qualquer jeito.

– Ah, para vai. Só porque você chupou chupeta até os dez anos...

– Oito!

– Oito anos e usou aparelho até os 34.

– Isso, vai provocando. Quando o nosso filho precisar usar aparelho, a gente conversa.

– Aliás cadê a chupeta?

– A ortodôntica ou a universal?

– A da capinha colorida. Você ferveu a capinha?

– Fervi naquele treco de micro-ondas.

– Ah, não é a mesma coisa que água fervente, né? Será que os micróbios morreram?

– Quer usar aquele lencinho desinfetante? Está na mala? Na bolsinha de zíper?

– Não. Esse está na nécessaire, com o álcool de mão.

– Você vai colocar ele no chão mesmo?

– Ah. Vou. Tadinho. Se não ele não vai se divertir.

– Peraí que te dou um galhinho filho!

– Olha essas folhinhas...

E Júnior segue feliz amassando areia com os dedos, batendo o galho no chão e soltando bolhas de baba com a boca.

Anne Rammi

Anne Rammi, artista plástica e mãe do Joaquim (3 anos) e do Tomás (1 ano). Experimentou com a chegada dos meninos a oportunidade de quebrar muitos paradigmas da maternidade contemporânea e relata suas experiências com fidelidade e uma peculiar (e muitas vezes polêmica) ironia. Escreve muito, fala muito, produz incessantemente, em especial sobre os temas do universo da maternidade crítica e consciente, como o parto humanizado, amamentação prolongada, criação por apego e em defesa de uma infância livre de consumismo, sendo personagem importante nos grupos ativistas da internet materna. Recentemente virou vegetariana e vive o dia a dia tentando adequar as ideologias às práticas, rumo a uma vida com foco na família, na sustentabilidade e na educação fora da escola. www.mamatraca.com.br

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