Uma amiga querida, mãe de primeira viagem, estava arrumando a mala da maternidade e me perguntou o que não podia deixar de levar. Fiz uma lista mental, eliminando as coisas óbvias como roupinhas ou lembrancinhas e buscando uma dica certeira. "Um kit de maquiagem bem básico com dois ou três produtinhos para usar depois daquele primeiro banho após o parto. Você não vai se arrepender."

Implícito na resposta estava um conselho de mãe experiente: essa vaidade salutar faz muito bem para a autoestima. Sempre quando vir as fotos do pós-parto, vai se emocionar com seu brilho no olhar e sorriso largo e nem vai notar as olheiras de quem passou horas e horas trabalhando para trazer o filho ao mundo.

É claro que pincéis, lápis e pós coloridos fazem parte vida das mulheres bem antes dos bebês estarem presentes nela, mas o interessante é observar que a nossa relação com a maquiagem muda conforme a criança vai crescendo.

O corretivo será o companheiro inseparável nos primeiros meses de maternidade. Nunca, nunquinha o esqueça no fundo da gaveta. Porque mesmo descabelada, cheirando a leite e com uns quilinhos a mais, ele atua como uma espécie de curandeiro místico trazendo de volta a dignidade amada para a aparência da recém-parida. E será cada vez mais indispensável à medida que você for colecionando noites em claro e a cara de panda tomar conta do seu semblante.

Passada a fase inicial do relacionamento (ou a volta dele) com a maquiagem, vale incorporar na rotina facial duas pinceladas de um blush rosado. Pode ser um ótimo atalho para conseguir um efeito do tipo "sou mãe e saio todo dia para tomar um solzinho com meu bebê", mesmo que isso não seja totalmente verdade.

Quando começar a sobrar um tempinho, está na hora explorar diferentes possibilidades. Se resolver investir em novos produtos, não se esqueça de mantê-los bem longe de mãozinhas fofuchas. Num descuido, descobri que os azulejos do meu banheiro ganharam a cor nude 02. Ficamos bege, eu e a parede. Ela com base, e eu sem.

Aliás, sempre que coloco meu arsenal cosmético em uso, sou observada por dois pares de olhinhos curiosos e atentos às cores e realces do meu rosto. É fácil se deixar levar pela empolgação de experimentar um ou outro produto nas pequenas, em especial batons e esmaltes que exercem, desde muito cedo, um fascínio em mães e filhas. Porém, é preciso um cuidado extra para não cair na cilada da miniperua. Vamos combinar: maquiagem e criança não combinam.

Depois de anos de tentativas, erros e acertos, hoje me relaciono com a maquiagem de uma forma mais, digamos, recreativa. Atualmente meu queridinho da vez é o rímel à prova d"água e sei que compartilho dessa preferência com muitas outras mães emotivas. Agradeço a essa evolução da indústria cosmética por resistir, firme e forte, à cachoeira que costuma se formar em meus olhos durante eventos como festa junina, formatura, dança de final de ano, batizado de capoeira e toda e qualquer festividade que envolva uma apresentação das minhas filhas e preservar minha cara e minha moral perante às crianças.

Porque não basta ser mãe. É preciso ter base para isso.