Infância

O exagero das festas infantis

Mamatraca

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  • Paola Saliby/UOL

    Para poder apagar as velinhas do rebento, os pais agora se endividam em até 12 vezes

    Para poder apagar as velinhas do rebento, os pais agora se endividam em até 12 vezes

Alguém pode me dizer o que aconteceu com as festas infantis?

Sim, me refiro àquelas comemorações onde o bolo permanecia em cima da mesa, tinha brigadeiro roubado antes do "Parabéns" e tia passando a bandeja de coxinhas e esfihas entre os convidados. Pelo que tenho visto, essa modalidade de reunião só está presente na lembrança daqueles saudosos tempos onde os menores de dez anos andavam soltos no banco de trás do Monza.

Os parâmetros atuais são outros.

Para poder apagar as velinhas do rebento, os pais agora se endividam em até 12 vezes. Um salão e um bolo não bastam. É preciso um espaço todo cheio de abundâncias: jogos, obstáculos, barulhos, personagens, atividades, decorações, detalhes, funcionários, fotos. Em um movimento que se assemelha a uma corrida maluca, famílias competem para ver quem traz a maior quantidade de referências colhidas nas redes sociais e em sites especializados, empenhando-se em fazer com que o evento tenha dezenas de curtidas, como manda a cartilha da internet.

Não basta cantar "Parabéns", tem de contratar um grupo de monitoria que entoa quantas vezes for preciso com um entusiasmo de causar inveja a uma lesma, "é pique, é hora" até traumatizar os pequenos (caso verídico, aconteceu comigo). Tem de ter trocas de figurino dignas de bailes de debutantes. Tem de estar paramentado com metros de papel adesivo impresso com o nome e o personagem favorito do aniversariante para, momentos depois do adeus, serem descartados em um lixo qualquer. Lembrancinhas mais caras do que o próprio presente.

Que fique bem claro que sou muito a favor desse ritual que é fazer festa, se arrumar, enfeitar o salão, ganhar presente, receber gente querida para brincar, cantar, comer, beber e celebrar mais um ano de vida. O que tem incomodado –não só a mim, mas a muitas outras mães com quem tenho conversado– é o exagero cada vez mais comum nesses eventos.

Na ânsia de oferecer sempre o melhor para os filhos, pequenas fortunas são investidas em um pacote genérico de festa (quem aqui já solicitou um orçamento para bufês infantis sabe do que estou falando) e os anfitriões acabam se esquecendo de que o importante não é a mesa estar ornando com o convite ou a quantidade de convidados não ultrapassar o número pré-estipulado.

Vale a pena fazer uma pausa para reavaliar as prioridades nos festejos. E na opinião de quem já organizou uma respeitável quantidade de festas de criança e também se descabelou porque a cobertura do cupcake não ficou do mesmo jeito que no Pinterest –essa mãe sou eu– é preciso focar na plenitude da comemoração e na simplicidade da execução.

Por festas mais recheadas de sorrisos genuínos. Porque, no final do "rá-tim-bum", é isso o que importa.

Priscilla Perlatti

Priscilla Perlatti trabalhou durante anos com turismo e depois que se tornou mãe da Stella (7 anos) e da Lia (5 anos) se assumiu designer. Já superou as preocupações com chupetas e desfralde (apesar que as birras ainda são bem comuns) e agora enfrentauma nova etapa com questões como dentes moles, alfabetização e o desapego na criação – esse último uma demanda das filhas já crescidas. Costuma dizer que hoje exerce uma maternidade reativa, pois os anos de experiência levaram embora a ansiedade em se antecipar às possíveis necessidades das crianças e trouxeram calma e serenidade para lidar com os infinitos desafios de ser mãe. Também gosta muito de falar de turismo e lazer com crianças. www.mamatraca.com.br

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