Gestação

Meu amor não é igual

Mamatraca

Mamatraca

  • Paola Saliby/UOL

    No coração das mães, existe uma espécie de compartimento secreto que vai se multiplicando

    No coração das mães, existe uma espécie de compartimento secreto que vai se multiplicando

Um dos maiores medos que tive quando engravidei pela segunda vez foi não ser capaz de gostar daquela criança que estava crescendo na minha barriga, assim como gostava daquela que já fazia parte da minha vida.

O amor por um filho é tão grande e absoluto que lota o coração, deixando espaço para muito pouco. E a gente acha que, mesmo para mais afeto, vai ser difícil encontrar vaga. Mas a vida –e eu diria também a sobrevivência– tem dessas coisas.

A segundinha, enfim, nasceu e, assim como acontece com todas as relações, percorremos nossos caminhos nos conhecendo e construindo nosso vínculo. De fato, ela ocupou um espaço que eu não sabia que estava disponível. Uma espécie de compartimento secreto que vai se multiplicando à medida que os filhos vão nascendo. Sim, é verdade, ele existe: o amor materno infinito! Por um cálculo fantástico e sofisticado, o querer bem não se dividiu. Expandiu-se. E fazendo isso, adquiriu uma nova forma.

O que não quer dizer que gosto das minhas filhas da mesma maneira. Amo cada uma pelo que elas são individualmente e pela forma com que se relacionam comigo. Elas têm atitudes, comportamentos e reações diferentes em cada momento, então, minha ligação com cada uma delas nunca poderia ser igual. Mas, atenção, falo aqui não de quantidade, pois sentimentos não são mensuráveis, mas de qualidade.

Um amor se apresenta de forma mais racional, terno, profundo, doído de tanta identificação. O outro aparece de maneira visceral, debochado, leve, fascina pelo desafio. Pontos em comum eles têm muitos: são plenos, abundantes, espontâneos. E a beleza disso é que há uma alternância e uma simultaneidade entre as filhas quando despertam em mim essa festa de emoções. Pura simbiose.

Assim como no símbolo do yin-yang, elas vão se encaixando dentro de um todo e construindo a relação que vamos levar para o resto de nossas vidas. Não são isoladas, cada uma tem um pouquinho da outra e de mim dentro de si.

O temor que tive no começo dessa vida de mãe de duas foi ser injusta com as minhas crias. Achava que comparando e medindo os sentimentos, ia achar a resposta certa para quanto era necessário gostar.

O amadurecimento da maternidade levou embora a exigência de me antecipar às necessidades delas e mostrou que a nossa ligação faz parte de um todo maior. Aprendi, enfim, a cultivar a diversidade dos amores da minha vida.

Priscilla Perlatti

Priscilla Perlatti trabalhou durante anos com turismo e depois que se tornou mãe da Stella (7 anos) e da Lia (5 anos) se assumiu designer. Já superou as preocupações com chupetas e desfralde (apesar que as birras ainda são bem comuns) e agora enfrentauma nova etapa com questões como dentes moles, alfabetização e o desapego na criação – esse último uma demanda das filhas já crescidas. Costuma dizer que hoje exerce uma maternidade reativa, pois os anos de experiência levaram embora a ansiedade em se antecipar às possíveis necessidades das crianças e trouxeram calma e serenidade para lidar com os infinitos desafios de ser mãe. Também gosta muito de falar de turismo e lazer com crianças. www.mamatraca.com.br

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