Infância

Prezado tio da pipoca

Mamatraca

Mamatraca

  • Paola Saliby/UOL

    Os pipoqueiros fazem parte dos personagens que habitam a saída das escolas

    Os pipoqueiros fazem parte dos personagens que habitam a saída das escolas

Eu sou aquela mãe que costumava comprar do senhor na saída da escola toda semana. Lembra? Aquela que pedia para dividir o conteúdo de um saquinho em dois e, por conta própria, o senhor ia lá e quase que enchia os dois até a boca e eu falava: põe menos, tio, que logo mais elas vão jantar...

Tô sumida, né? Pois, é.

Desde o dia que me informou que não ia mais separar o conteúdo e que eu ia ter de comprar um saco para cada filha (acho que se recorda do escândalo que as crianças deram quando, naquele momento, proclamei que nunca mais ia ter guloseimas depois da aula), o senhor deve ter notado que perdeu a cliente pra sempre, né?

Mas não foi só isso. Veja bem.

Sei que os pipoqueiros fazem parte dos personagens que habitam a saída das escolas. Existem as variações: baleiros, algodoeiros. Mas, nesse caso, o senhor atua com exclusividade no local há anos, eu tô ligada.

Pois bem. Acredito que deva ter um grande conhecimento empírico das variações do mercado consumidor pipoquístico-escolar, sabendo que esse é o horário de maior vulnerabilidade no humor de pais e filhos.

Por isso compreendo sua jogada de marketing quando se posiciona estrategicamente ao lado do meu veículo, de modo que, enquanto faço manobras para sair do estacionamento, sou obrigada a desviar de transeuntes e do seu carrinho, fazendo com que minhas filhas tenham contato visual com seu ponto de venda e continuem pedindo pela iguaria que o senhor produz. Uma combinação que culmina em crianças insistentes e uma mãe extremamente contrariada. Nada bom para os negócios...

Então, senhor pipoqueiro, por esses motivos, tive de apelar. E venho, por meio dessa, assumir que, assim como o senhor, tive de usar dos meus truques e jogar o jogo. Difamei e caluniei seu produto.

Murcha e xexelenta foram algumas das palavras usadas. Também tive de fazer valer da dicotomia: mãe boazinha, que faz jantinha saudável, versus pipoqueiro, que tenta empurrar pipoca velha para alunos esfomeados e que têm de percorrer um longo e congestionado caminho até seus lares.

Mas sabe quando tive certeza que triunfei, tio?

Na hora que ouvi, já dentro do carro, minha cria mais velha passando instruções para a irmã:

– É melhor comer pipoca em casa. A pipoca do tio faz nhéc-nhéc. A pipoca da mamãe faz cróc-cróc!

Cordialmente,

Mãe de Duas

Priscilla Perlatti

Priscilla Perlatti trabalhou durante anos com turismo e depois que se tornou mãe da Stella (7 anos) e da Lia (5 anos) se assumiu designer. Já superou as preocupações com chupetas e desfralde (apesar que as birras ainda são bem comuns) e agora enfrentauma nova etapa com questões como dentes moles, alfabetização e o desapego na criação – esse último uma demanda das filhas já crescidas. Costuma dizer que hoje exerce uma maternidade reativa, pois os anos de experiência levaram embora a ansiedade em se antecipar às possíveis necessidades das crianças e trouxeram calma e serenidade para lidar com os infinitos desafios de ser mãe. Também gosta muito de falar de turismo e lazer com crianças. www.mamatraca.com.br

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