Irmãos dormindo no mesmo quarto? Desde quando?
-
Paola Saliby/UOL
Acredito que o fato de dormir no mesmo quarto traz diversos benefícios para os irmãos
Desde sempre, é a minha resposta para a pergunta do título acima
Quando a gente recebe o resultado positivo pela segunda vez, uma relação de coisas inadiáveis surge imediatamente na cabeça:
– Arranjar um outro nome mais lindo do mundo;
– Separar o que ainda dá para aproveitar do primeiro filho;
– Rever o orçamento;
– Fazer caber essa criança (e sua tralha) dentro de casa.
Pelo menos, essa foi a lista mental que elaborei no instante que confirmei que estava grávida de novo. E, antes mesmo de saber o sexo do bebê, já estava decidido que as duas crias iriam dormir no mesmo quarto. Esse fato acabou não exatamente sendo uma opção e sim uma consequência. Moramos em um apartamento pequeno e mudar de casa não estava nos planos.
Mesmo que tivéssemos espaço de sobra, a escolha teria sido a mesma porque acredito que o fato de dormir no mesmo quarto traz diversos benefícios para os irmãos: fortalece o vínculo, ajuda a criar uma cumplicidade entre eles e faz com que percebam que a necessidade de compartilhar –seja o espaço, objetos ou pessoas– é uma coisa inevitável na vida do ser humano, principalmente, se esse outro ser é sangue do teu sangue. Do lado prático, a vantagem é que brinquedos e utensílios infantis (leia-se a baguncinha das crianças) ficam concentrados em um só lugar –ponto importante para quem mantém a casa sozinha como eu.
Tudo isso é muito bonito, mas reconheço que tem muita gente que leva em consideração outros aspectos na hora de decidir se coloca os irmãos para dormirem juntos ou separados. De fato, é grande a possibilidade de o mais velho se incomodar com o choro do mais novo durante a noite, principalmente, durante os primeiros dez anos. E os pais têm de ser criativos ao explicar para o filho porque não dá para brincar no quarto enquanto o bebê está dormindo.
Daí, o pai e eu nos apegamos aos pontos positivos e estamos com eles até hoje.
Para receber a Lia, mudamos um pouquinho a decoração (quem consegue segurar uma grávida e seu instinto de arrumar o ninho?) com a "ajuda" da Stella demos uma nova demão de tinta nas paredes, ganhamos um lindo jogo de colchas artesanais (do qual, confesso, até hoje não consegui me desfazer, apesar de não caberem mais nas camas das meninas) e compramos alguns elementos novos para o quarto, sendo que a mais importante foi a caminha da irmã mais velha, que tinha acabado de ceder, gentilmente, o berço para o bebezinho que estava chegando.
Lia passou as noites dos primeiros meses dormindo no nosso quarto até ser transferida para seu aposento oficial. Mas ela, ao contrário da minha primogênita, foi uma daquelas crianças que chegava a acordar de oito a dez vezes por noite! Stella nunca se incomodou com a choradeira noturna e, para o bem-estar geral da família, foram poucas as vezes que reclamou do barulho.
Quando a caçula completou dois anos, o quarto ganhou nova configuração e decoração. Como me falta espaço, tenho de compensar na criatividade. O berço se foi de vez (ai, que dor no coração!) e, no lugar dele, veio uma cama diferente, com escada, escorregador e espaço para fazer um esconderijo (semanas depois, Lia resolveu brincar de "bungee jump" nela e o resultado foi um galo enorme na testa e um olho roxo). Além de ser o lugar de dormir, o quarto agora concentra todos os brinquedos, jogos e é o palco de muitos piqueniques e cabaninhas com as bonecas.
Às vezes, pergunto a elas se gostariam de ter quartos separados e sempre me respondem com um uníssono NÃO. Percebo que esse é o território delas, lugar onde brincam, inventam e fazem planos para dominar o mundo. E enquanto durar a paz fraternal, permanecerão unidas no sono e na vigília.
Priscilla Perlatti
Priscilla Perlatti trabalhou durante anos com turismo e depois que se tornou mãe da Stella (7 anos) e da Lia (5 anos) se assumiu designer. Já superou as preocupações com chupetas e desfralde (apesar que as birras ainda são bem comuns) e agora enfrentauma nova etapa com questões como dentes moles, alfabetização e o desapego na criação – esse último uma demanda das filhas já crescidas. Costuma dizer que hoje exerce uma maternidade reativa, pois os anos de experiência levaram embora a ansiedade em se antecipar às possíveis necessidades das crianças e trouxeram calma e serenidade para lidar com os infinitos desafios de ser mãe. Também gosta muito de falar de turismo e lazer com crianças. www.mamatraca.com.br