Eu estava radiante, realizada, me sentindo segura. Me via mãe, com um bebê lindo e saudável no colo, a coisa que eu mais desejava na vida. Mas, de repente, me senti muito só. Um mundo imenso, absolutamente novo e um tanto devastador havia me abraçado.

Esse vazio surgiu algumas semanas após o parto. Coincidiu com o período em que a vida de todos que estavam ao redor me paparicando retornou ao normal. Meu marido voltou a trabalhar, minha mãe foi embora para a casa dela. As visitas também se tornaram bem mais escassas. Todo mundo retomava sua vida de sempre, menos eu, que passava por uma transformação nos aspectos mais variados que se pode imaginar: pessoal, familiar, profissional, físico, psicológico. Tudo de uma vez. É realmente um tsunami. De repente eu estava em casa sozinha com um bebê e a moça que me ajudaria em casa. E assim ficaria sabe-se lá até quando. Conheci ali, talvez, o lado B da maternidade. Numa só tacada, minha vida virou de ponta-cabeça.

Esse sentimento ambíguo me corroía por dentro. Eu tinha tudo que sempre quis. Me parecia injusto e egoísta sentir-me sozinha tendo nos meus braços a companhia e o amor enorme de uma filha.

À medida que o tempo foi passando, minha vida também foi se normalizando e me adaptei ao novo cenário.

Nunca ninguém havia me falado sobre essa solidão. Nenhum livro, nenhum conselho. Mas, depois de um bom tempo, conversando com outras mães, descobri que este é um sentimento que assola uma parcela enorme das mulheres em alguma etapa da maternidade.

Fizemos uma semana sobre esse tema no Mamatraca (você pode conferir aqui) e o resultado foi surpreendente: recebemos muitos, mas muitos comentários de mães se sentindo abraçadas e acolhidas porque também passavam por isso.

A psicanalista argentina Laura Gutman, autora do livro "A maternidade e o encontro com a própria sombra", disse em uma entrevista ao Mamatraca que o nascimento de um filho é o evento mais avassalador da vida de uma mulher, uma grande quebra física e emocional. A "sombra", segundo ela, ou a parte que desconhecemos de nós mesmas, "aparece em parte associada à crise devido à presença do bebê, em parte porque entra em contradição nossa identidade, sobretudo se damos valor a nossa independência, nossa autonomia e a disponibilidade de tempo como um bem próprio".

Mas como se preparar para enfrentar essas mudanças? "Penso que o mais importante é chegar madura emocionalmente. E a maturidade é fruto da indagação pessoal, da busca de ser verdadeira", diz Gutman. "Chega-se a essa maturidade investigando aquilo que nos aconteceu na infância – que não lembramos ou do que fugimos para não sofrer. Frente a qualquer crise, a melhor opção é se conhecer mais."

Encontrar grupos ou tribos com as quais nos identificamos também é um recurso importante para ajudar a driblar essa solidão materna.  Nesse ponto, uma grande companhia para as mulheres que se tornaram mães nos últimos cinco anos tem sido a rede materna na internet.  Mesmo que virtualmente, compartilhar esses sentimentos, trocar informações ou mesmo dar algumas risadas pode ter um efeito transformador.  Pode se dar ali o encontro de uma nova identidade.