O nascimento de um pai
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Paola Saliby/UOL
Os pais modernos estão tentando, ao máximo, se adaptar à nova realidade
O nascimento de um filho é como um tsunami que chega com tudo e vira a nossa vida de ponta-cabeça. "Nasce um bebê, nasce uma mãe" é a frase comumente repetida, mas não podemos nos esquecer que nasce também um pai, um novo marido/companheiro, um novo casamento, uma nova rotina e ainda a necessidade de repensar nossas verdades e reforçar valores.
Nós, mulheres, abrigamos o bebê no ventre, amamentamos, desenvolvemos naturalmente a relação visceral com a cria. Talvez por isso, inconscientemente, tendemos a achar que somos mais "donas" dos nossos bebês do que os pais, que precisam conquistar essa relação.
Tendemos a ser cruéis na cobrança que fazemos aos nossos companheiros. Por um lado, queremos que eles participem, sejam ativos, compartilhem de todas as nossas angústias, sejam compreensivos e parceiros. Mas também esperamos que sejam perfeitos nesse comportamento –dentro da nossa concepção de perfeição–, sem compreender que a natureza masculina é diferente da feminina.
Imaginar como a vida dos pais também se transforma com a chegada de um bebê é um exercício que poderíamos começar a fazer.
Reclamamos que eles não sabem onde fica o termômetro. Reclamamos porque compram tudo errado no supermercado. Reclamamos porque não entendem que, quando pedimos alguma coisa, queremos aquilo na mesma hora e não dez minutos depois. A sensação é que eles nunca fazem nada certo.
Adoro uma esquete do espetáculo "Grávido" chamada "Office Boy", em que o pai corre pra lá e pra cá, fazendo tudo o que a mãe ordena, logo após o nascimento do filho, e nada do que ele faz é suficiente.
Quando ele acerta, a mulher diz que ele não fez mais do que a obrigação. Ou então, quando o marido aparece pra atendê-la, ela responde: "não precisa mais, agora eu já fiz". Muitas vezes, os homens querem e gostam de fazer as coisas –só que do jeito deles– e nós não permitimos.
Temos de encontrar uma forma de a mulher e o homem darem valor ao simples fato de compartilhar a vida dos filhos, sem a cobrança de que existe um único modelo a seguir. Não se trata de uma bandeira em defesa do sexo masculino, apenas estou tentando trazer uma discussão sobre as relações normais e saudáveis, de casais que se amam e se respeitam.
Não podemos nos esquecer que os pais desta geração estão vivenciando um movimento importantíssimo de mudança no comportamento familiar, o que é ótimo e necessário na nossa atual sociedade. Mas, ao mesmo tempo, eles têm a grande desvantagem de, em sua maioria, terem crescido com modelos muito diferentes dentro de casa.
Seus pais sequer diziam "eu te amo" a um filho, muito menos dividiam tarefas domésticas com suas mulheres. Ou seja, os pais modernos estão tentando, ao máximo, se adaptar à nova realidade, mas não têm referências. Como fazer? O que é certo? O que as mulheres e a sociedade efetivamente esperam deles?
O que observo é que, até hoje, os homens foram menos preparados para serem pais do que as mulheres para serem mães. Nem sempre é fácil, não vou mentir, porque a carga sobre as mães é enorme, mas cabe a nós termos um pouco de paciência e compreensão também.
Roberta Lippi
Roberta Lippi, jornalista, é mãe da Luísa (6 anos) e da Rafaela (3 anos). É uma das blogueiras mais antigas na área de maternidade e está sempre antenada nas discussões sobre educação e comportamento. Vive uma mistura de fases em casa, e rebola para conseguir não deixar cair nenhum pratinho. Sente que se tornou uma mãe muito melhor por causa da internet, lugar onde encontrou a informação de qualidade e a verdade que não achou nos livros e nos consultórios de pediatra. Prefere a linha do "equilíbrio", ou do "meio termo" na maioria das vezes, mas também sabe rodar a baiana quando acha que deve. www.mamatraca.com.br