Identifique e combata os vilões da amamentação
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Paola Saliby/UOL
Amamentar é um grande exercício de fé na vida e de confiança em si
Fazendo a linha "coerência é fundamental", a mãe que quer amamentar desvencilhou-se dos mitos, pensou e sentiu sobre o seu ideal de amamentação, e está focada em alcançar seus desejos, precisa adotar práticas que os suportem.
Nesse último texto da série "Amamentação para Quem Tem Peito", chegou a hora de falarmos daquilo que representa perigo e daquilo que vale a pena considerar. É claro que a experiência de cada família desenrola-se de um jeito e o importante é que, dentro do processo de responsabilidade por sua própria história, cada mãe encontre o seu caminho para a realização.
Fuja da chupeta
Todos os estudos realizados comprovam que crianças que mamam no seio, mas que fazem uso de chupeta, têm o dobro de chance de serem desmamadas antes dos seis meses.
A lógica é simples: colocar na boquinha do bebê outro bico que não seja o do seio da mãe é uma forma de oferecer a ele um estímulo diferente e, portanto, ensiná-lo a posicionar seus músculos, língua e maxilar de forma diferente. Começa a acontecer a chamada confusão de bicos.
Além disso, existem relações com problemas de fala, mastigação, deglutição e respiração da criança. Não é a toa que todas as entidades envolvidas com a promoção da amamentação condenam o uso da chupeta, como é o caso da OMS (Organização Mundial de Saúde) e Academia Americana de Pediatria.
A maior aliada de uma mãe na hora de fazer uma escolha para seu filho é a informação e, no caso da chupeta, tudo aponta que, quando a prioridade é a amamentação, o melhor é ficar longe dela. Isso não significa que toda criança que usa chupeta sofre problemas de amamentação. Significa que todas elas apresentam uma chance aumentada de ter problemas.
Fuja da mamadeira
Na mesma lógica da chupeta, a mamadeira também oferece riscos à amamentação natural, com o agravante de que o fluxo de leite não corresponde ao natural.
Mamando na mamadeira, rapidamente os bebês entendem que precisam fazer menos força para receber mais leite e operam, com a musculatura facial, um mecanismo completamente diferente do que fazem ao mamar no seio da mãe. A interferência na forma de sugar do bebê impacta diretamente na produção de leite. Em pouco tempo, é possível que o bebê comece a apresentar dificuldades ou desinteresse para mamar no seio.
É uma bola de neve: quanto menos estímulo no seio, menor a produção de leite. Se for estritamente necessário oferecer leite que não seja pela mama da mãe, todos os especialistas recomendam que seja usado o copinho, vertendo o líquido com paciência (e perseverança) na boquinha do bebê, que aprende a sorvê-lo sem haver interferência no processo de sucção.
Procure ajuda especializada
Nem todo pediatra é especialista em amamentação. No Brasil, um médico pediatra possui menos de um semestre de estudo sobre o tema. Infelizmente, nos consultórios são feitas muitas recomendações ruins de substitutos do leite materno que acabam com sonhos de mães e filhos.
A explicação para esse fenômeno é simples: o pediatra de uma forma geral tem uma visão ampla sobre a saúde, o bem-estar, o desenvolvimento e as especificidades da criança e, na maioria das vezes, as abordagens amplas não beneficiam a amamentação como prioridade no processo. Uma boa ideia é procurar ajuda efetivamente especializada, como as consultoras de amamentação, grupos virtuais ou presenciais que discutem o tema, ou os próprios bancos de leite, espalhados em rede pelo país, cujos endereços e telefones você encontra no site da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano.
Informe-se
Uma mulher bem informada é menos suscetível a inseguranças e medos sem fundamento. É uma boa ideia conhecer como funcionam os princípios básicos da máquina perfeita que é o corpo feminino em termos de produção de leite e a mágica dessa relação com o bebê. Informações sobre livre demanda, como o leite é produzido, como funciona o processo de sucção do bebê, quais as posições interessantes para estimular os seios nas mamadas e outras tantas de ordem prática podem ser boas aliadas.
Acredite
Não há como colocar a amamentação em listagens de dicas. Mil textos, técnicas e uma internet inteira de conhecimento podem não ser o suficiente para vencer o processo. Para amamentar é preciso acreditar. Confiar. Entregar cegamente. Comungar. É preciso muitas vezes chorar de desespero e ficar feliz em seguida. É preciso ficar cansada e se sentir revigorada. Ficar feliz com o cheiro estranho de leite azedo e amar o aroma do arroto na boca do bebê.
Uma boa ideia para quem quer amamentar é entender esse processo todo como um combinado de pensamento, sentimento, ação, reação, instinto e cultura. E um grande exercício de fé na vida e de confiança em si.
Anne Rammi
Anne Rammi, artista plástica e mãe do Joaquim (3 anos) e do Tomás (1 ano). Experimentou com a chegada dos meninos a oportunidade de quebrar muitos paradigmas da maternidade contemporânea e relata suas experiências com fidelidade e uma peculiar (e muitas vezes polêmica) ironia. Escreve muito, fala muito, produz incessantemente, em especial sobre os temas do universo da maternidade crítica e consciente, como o parto humanizado, amamentação prolongada, criação por apego e em defesa de uma infância livre de consumismo, sendo personagem importante nos grupos ativistas da internet materna. Recentemente virou vegetariana e vive o dia a dia tentando adequar as ideologias às práticas, rumo a uma vida com foco na família, na sustentabilidade e na educação fora da escola. www.mamatraca.com.br