Bebês

A saga de uma mãe de classe média por uma família normal

Mamatraca

Mamatraca

  • Paola Saliby/UOL

    Mais dia menos dia, você vai parar num consultório psicológico para mais outra avaliaçãozinha

    Mais dia menos dia, você vai parar num consultório psicológico para mais outra avaliaçãozinha

Bastou dizer que está grávida pra todo mundo ficar de olho se você tá fazendo tudo certinho.

No começo, é o obstetra mais aquele grupinho restrito (também conhecido como família e amigos chegados) que fica patrulhando se você está se preservando e pecado de todos os pecados– engordando demais. Depois que a criança nasce, é o doutor pediatra quem faz o controle de peso, altura e circunferência craniana para ver se está tudo normal. E mais todas as outras indicações de especialistas que uma mãe é levada a passar para checar se tudo está dentro dos conformes.

Daí, mais cedo ou mais tarde, o cara indica oftalmologista, otorrinolaringologista, odontopediatra –especialista que se preze não tem nome fácil– pra avaliar cabeça, ombro, joelho e pé e, de quebra, a sanidade mental da família inteira. Certeza que você sai de um desses consultórios com uma audiência marcada com a fonoaudióloga –outro nome comprido–, que, por sua vez, faz a criança comer alimentos de texturas diferentes, pronunciar sons impronunciáveis para, depois de uma avaliação fono-áudio-psicológica, ela fala que tua cria até é uma criança bem inteligente, mas, infelizmente, não consegue encostar a língua na ponta do nariz e vai precisar de seis sessões presenciais e uma reavaliação para ver se a oclusão está como deveria.

Daí a pobre da mãe –sim, pobre, porque, a essa altura, haja corrente na conta para dar conta de todos esses recibos– volta na odontopediatra (que, a partir de agora, vamos chamar de dentista para economizar caracteres e, consequentemente, reduzir emissão de carbono, já que essa coluna pratica a sustentabilidade) só para ouvir que, aos três anos, a filha pode ficar tranquila e sentar sem medo naquela cadeira superlegal, que levanta e reclina, "porque a gente vai fazer o molde para o aparelho, mas não se preocupe que agora tem uns aparelhos das princesas que as meninas a-do-ram!" Ã-hã, senta lá...

– Mas como não vai colocar aparelho nela agora? Ela vai crescer com a cara torta. Você prefere tratar de um resfriado ou de uma pneumonia? "Vindo de você, essa pergunta é bem óbvia!" foi a resposta, tão ríspida e desesperada quanto a pergunta.

Até que, mais dia menos dia, indicado pelo (insira o profissional de sua preferência aqui) você vai parar num consultório psicológico para mais outra avaliaçãozinha. Ah, só para se certificar de que você e sua família são normais meeeeesmo. Conversa, futuca, confabula, joga verde, colhe maduro, vira do avesso.

– Parabéns, suas filhas são ótimas. O recibo é em nome de quem?

Priscilla Perlatti

Priscilla Perlatti trabalhou durante anos com turismo e depois que se tornou mãe da Stella (7 anos) e da Lia (5 anos) se assumiu designer. Já superou as preocupações com chupetas e desfralde (apesar que as birras ainda são bem comuns) e agora enfrentauma nova etapa com questões como dentes moles, alfabetização e o desapego na criação – esse último uma demanda das filhas já crescidas. Costuma dizer que hoje exerce uma maternidade reativa, pois os anos de experiência levaram embora a ansiedade em se antecipar às possíveis necessidades das crianças e trouxeram calma e serenidade para lidar com os infinitos desafios de ser mãe. Também gosta muito de falar de turismo e lazer com crianças. www.mamatraca.com.br

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