Tragam minha filha de volta!
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Paola Saliby/UOL
Tento não mais cair na armadilha de discutir com minha filha como se tivesse a mesma idade dela
Tem aquela cena clássica do shopping. Você vê uma criança berrando e se jogando no chão, percebe os pais acuados sem saber o que fazer e logo pensa: criança mimada. Até que um dia você tenha filhos e isso vai, com certeza, acontecer com você. Por mais que se esforce como mãe ou pai, seu filho um dia vai se jogar no chão em algum lugar público e fazer você morrer de vergonha.
Com a minha primeira filha, eu tinha uma quase neurose de acertar em tudo. Achava que qualquer atitude determinaria o comportamento dela lá na frente. No fundo, acredito que toda família é um pouco assim com os primogênitos, deposita neles uma carga enorme de cobranças e de responsabilidade. Eu tinha de aprender a controlar todas as birras para que minha filha não se transformasse em um monstrinho ou em uma minitirana e isso me deixava tensa, sem saber como agir. Porque dicas de livros e do pediatra, minha cara, nem sempre funcionam com você na hora do aperto.
O que percebo, hoje, é que tudo é uma questão de expectativas e de experiência. Sim, há regrinhas básicas para lidar com as birras, veja algumas no divertido vídeo abaixo que fizemos para o Mamatraca. Internet e livros também estão cheios de bons conselhos. Mas o que eu descobri com o tempo, especialmente com a chegada da segunda filha, é que as birras são uma fase pela qual seu filho vai passar, você queira ou não, e que tem uma duração limitada.
Nunca me esqueço da sensação que tive quando a Luísa começou a ter seus primeiros ataques. "Minha filha foi abduzida, tragam ela de volta!" ou "cadê aquela minha anjinha, socorro!". A cena é clássica: a criança está bem e, de repente, ao ouvir um não, reage como se estivesse prestes a tomar uma surra. Se joga para trás, ajoelha no chão, arremessa na parede o prato de comida ou outra coisa que estiver pela frente, berra sem precedentes porque o arroz caiu em cima do feijão.
Esses momentos evocam ainda outro problema: ficar com raiva do próprio filho, aquele ser que você mais ama na vida. É um dos sentimentos mais conflitantes para qualquer mãe. Quando minha mais velha passou por essas mudanças de comportamento pela primeira vez, me batia o sentimento de impotência, de insegurança por não saber quanto tempo duraria aquilo e, pior, se seria assim para sempre. Porque a gente acha que tudo é eterno na maternidade, né? Meu filho nunca vai comer direito, nunca mais vou dormir à noite, nunca mais terei vida social... e por aí vai.
Depois ela cresceu, a fase birrenta passou (houve o agravante da minha segunda gravidez quando ela tinha dois anos) e chegou a caçula. Mas, com segundo filho tudo é bem diferente, pelo menos por aqui. A pequena está justamente nessa etapa agora, com pouco mais de dois anos e meio, porém definitivamente as birras dela não me abalam. Sim, ela faz tudo o que a outra fazia. Mas eu aprendi a ignorar e, mais importante, sei que não há muito o que fazer –isso vai passar. Estou mais leve, ela fica mais leve, a birra passa mais rápido.
Agora entendo com mais facilidade que a criança não está tentando te manipular. Ela apenas não sabe lidar com suas frustrações, está buscando autonomia e testando seus próprios limites. Tento não mais cair na armadilha de discutir com minha filha como se tivesse a mesma idade dela. Respiro fundo e ignoro a cena até que ela se acalme e eu possa lhe dar um abraço e explicar o que aconteceu. Aprendi a ser menos dura, mas também não cedo ao que eu acredito estar errado. No fundo, acho que encontrei agora um maior equilíbrio entre a firmeza e a compreensão.
Roberta Lippi
Roberta Lippi, jornalista, é mãe da Luísa (6 anos) e da Rafaela (3 anos). É uma das blogueiras mais antigas na área de maternidade e está sempre antenada nas discussões sobre educação e comportamento. Vive uma mistura de fases em casa, e rebola para conseguir não deixar cair nenhum pratinho. Sente que se tornou uma mãe muito melhor por causa da internet, lugar onde encontrou a informação de qualidade e a verdade que não achou nos livros e nos consultórios de pediatra. Prefere a linha do "equilíbrio", ou do "meio termo" na maioria das vezes, mas também sabe rodar a baiana quando acha que deve. www.mamatraca.com.br