A maldição dos brinquedos que tocam musiquinhas
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Paola Saliby/UOL
Acho que brinquedos movidos a pilhas e baterias escondem segredos fantasmagóricos
Tenho um sério problema com brinquedos movidos a pilhas e baterias. Acho que eles escondem segredos fantasmagóricos e servem pra assustar a gente de madrugada. Os que tocam musiquinhas são os piores. Além de terem aquele som meio enferrujado, de repente, começam a tocar sozinhos, como se seres de outro planeta habitassem dentro deles.
Quando era pequena, a Luísa ganhou um cachorro todo fofinho, que toca música e fala uma frase diferente em todas as partes do corpo que você aperta. Várias, mas váaaarias vezes, na madrugada, quando eu ainda amamentava ou quando a Luísa acordava por alguma razão, eu batia o braço ou a cabeça no tal cachorro, e o maldito começava a cantar, no escuro e em meio aquele silêncio noturno. "Cabeça, ombro, joelho e pé, joelho e pé. Cabeça, ombro joelho e pé, joelho e pé. Olhos, orelhas, boca e nariz. Cabeça, ombro joelho e pé, joelho e pé".
E para conseguir desligar o negócio no escuro? Quem encontra a maldita chavinha? E, como uma provocação, ele continuava com um "Péeeee, pé amarelo". Quando eu achava que já havia terminado, desesperada com medo de a criança acordar, o cachorro tirava mais um sarrinho da minha cara e soltava um "tchaau tchaau".
Mas existem alguns ainda mais assustadores. Porque eles começam a tocar sozinhos sem a gente encostar. De repente, quando você acaba de colocar o bebê pra dormir, a abominável música enferrujada começa a tocar não se sabe como nem onde, no meio da caixa de brinquedos. E acorda a casa inteira.
Uma vez foi até engraçado. Um bichinho desses começou a cantar no meio da madrugada e, depois do susto, eu e meu marido não conseguíamos desligar nem tirar a pilha. O barulho tocava sem parar. Saímos correndo com o bonequinho até a cozinha e ficamos os dois rindo e tentando abrir a caixinha para tirar as pilhas.
Depois da fase dos brinquedos que tocam musiquinha, entrou a fase das bonecas que falam. Porque não basta ser boneca, tem de falar, fazer xixi, fazer cocô, cantar e tudo mais. Bonecas com carinha de bebê conversam como se fossem uma criança de três anos.
Piores são as versões esquisitíssimas de bonecas que falam todo o repertório de frases de uma só vez. A Luísa ganhou duas dessas em um aniversário, que num só apertão disparava:
– Me dá um abraço? Tô com fome. Eu te amo! Quer ser minha amiga? Vamos brincar? Estou com sono! Você é linda!
Por essas e outras que sou fã das bonecas de pano. A minha preferida é a "nega maluca" de pano que trouxemos da Bahia. Não canta, não dança, não faz xixi, não escova os dentes, não faz nada sozinha. Mas tem mil lacinhos coloridos na cabeça, uma roupa de fuxico e um sorrisinho delicioso.
Roberta Lippi
Roberta Lippi, jornalista, é mãe da Luísa (6 anos) e da Rafaela (3 anos). É uma das blogueiras mais antigas na área de maternidade e está sempre antenada nas discussões sobre educação e comportamento. Vive uma mistura de fases em casa, e rebola para conseguir não deixar cair nenhum pratinho. Sente que se tornou uma mãe muito melhor por causa da internet, lugar onde encontrou a informação de qualidade e a verdade que não achou nos livros e nos consultórios de pediatra. Prefere a linha do "equilíbrio", ou do "meio termo" na maioria das vezes, mas também sabe rodar a baiana quando acha que deve. www.mamatraca.com.br